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segunda-feira, 30 de março de 2015

A Once Upon a Time Tale:Despertar Capitulo 3

Capitulo 3
NEVE E PAIXÃO



EM UMA ESTRADA, DEPOIS DO CASTELO DE MIDAS, O Príncipe Encantado e Branca de Neve se encontraram pela primeira vez, cerca de um ano antes de seu casamento. As condições do encontro, inicialmente, não foram nada amigáveis. Branca de Neve estava vivendo como uma fugitiva quando caiu da árvore sobre a carruagem do Príncipe e sua futura noiva, enquanto eles atravessavam a floresta. E claro que, naquele momento, Branca não sabia quem ele era, o que o futuro lhes reservava ou a maneira curiosa como ele havia chegado àquele noivado... Para ela, aqueles dois eram apenas um casal de ricaços e sua carruagem, apenas um alvo para ser saqueado. Seu objetivo era o mesmo que com os demais que ela havia roubado durante sua fuga: conseguir algum dinheiro e escapar ilesa. Para viver e lutar novamente. Para evitar a rainha e seus soldados, para descobrir uma maneira de limpar seu nome. Estirada em um galho horizontal no topo da árvore, ela observava lá de cima enquanto a carruagem rodava e então parava. O homem bastante arrogante, pensou desceu, caminhou pela trilha e investigou a árvore caída que tinha interrompido a passagem. A árvore estava na estrada porque Branca a havia derrubado durante a noite, colocando-a lá. Um plano simples e elegante. Ela ficou espantada com o número de vezes que funcionou. E, então, pulou da árvore em cima da carruagem. Em questão de momentos - e ela tinha ficado muito boa nisso —, Branca pegou uma bolsa lá de dentro, sem prestar atenção na sonolenta loura da realeza que estava sentada no banco, enrolando seu cabelo. A bolsa era tudo o que importava, — e quando saiu correndo notou seu peso. Haveria algo bem valioso lá dentro. Branca conseguiu alcançar um dos cavalos dos nobres antes mesmo que a loura começasse a gritar. Trinta segundos depois, com o vento no rosto, Branca de Neve galopava para longe montada em um fogoso cavalo castanho, já pensando na Ponte dos Trolls. E ficou surpresa quando ouviu um grito bem atras dela. Virou-se e viu o homem arrogante em sua perseguição. Branca revirou os olhos. "Eles sempre acham que podem me pegar", pensou. O homem, no entanto, surpreendeu com sua capacidade de andar a cavalo; quando olhou por cima do ombro de novo, ele estava a praticamente duas cabeças de distância. Branca esporeou seu garanhão mais uma vez, mas foi tarde demais, pois sentiu as pesadas mãos do homem em seus ombros, os dois caíram de suas montarias e colidiram com o solo.
Ambos rolaram juntos. Branca encolheu seu corpo como uma bola para suportar o impacto, mas ouviu o grunhido do homem e sabia que ele tinha perdido o fôlego com o tombo. Quando finalmente pararam de rolar, ele estava em cima dela, mas sua respiração era irregular. Ele olhou para o seu rosto, e Branca então percebeu que somente naquele momento o rapaz estava descobrindo que ela era uma mulher. E desdenhou a surpresa que viu em seus olhos. (Embora fosse obrigada a admitir que fosse um belo par de olhos.) Ela usou esse breve momento de estranhamento, os dois com os olhares travados um no outro, para bater no queixo dele com uma pedra. O rapaz caiu para trás, atordoado. Ela estava galopando para longe novamente quando ouviu as palavras dele atrás: Vou encontrar você! Vou acabar encontrando você! MARY MARGARET BLANCHARD caminhava sozinha pela Rua Principal, contando as rachaduras da calçada, com as mãos nos bolsos da saia. Havia tido um encontro com o dr. Whale. Um terrível, terrível encontro. Mary suspirou, chutou uma pedra, olhou para a torre do relógio. Quando fora mesmo a última vez que ela tinha saído com alguém que tivesse apreciado? Não sabia... Ele havia se mostrado superior, coisa que talvez ela devesse ter esperado. Afinal, ele era médico. Mas também se mostrara desinteressado, fazendo com que Mary Margaret sentisse uma antiga e familiar tristeza. Será que ela era tão chata assim na opinião das outras pessoas? Custava a fazer contato com os demais... Era difícil para ela... Era como se tivesse saído com os homens errados durante toda a sua vida. Ela... Seu devaneio foi interrompido pelo que viu do outro lado da rua: Emma Swan, a mãe biológica de Henry, sentada na frente de seu Fusca amarelo, lendo o jornal atentamente. Mary Margaret sorriu, atravessou a rua e bateu no vidro do carro. — Você decidiu ficar na cidade por causa de Henry disse Mary Margaret. —Não é? — Ela admirou essa atitude. Claro, não conseguia imaginar como seriam as coisas a partir dali, mas admirava mesmo assim. — Sim, decidi ficar respondeu Emma, espreguiçando-se e esticando as pernas. O que não posso acreditar e que não existam quartos para alugar nesta cidade. — Levantou o jornal. — E nem emprego... Como pode? — Não sei muito bem o motivo — disse Mary Margaret. — As pessoas por aqui gostam que as coisas fiquem como estão, acho eu. — E o que você está fazendo na rua há esta hora? Mary Margaret cruzou os braços. —Tive um encontro péssimo, muito obrigado... — Ah, um desses... — Emma assentiu. — Conheço muito bem. — Ninguém nunca disse que o verdadeiro amor era fácil, não é? —retrucou Mary Margaret. Emma assentiu com a cabeça novamente, e Mary Margaret pensou ter visto
alguma coisa nos olhos da outra — algo que tinha a ver com amor verdadeiro, talvez, e que a magoara—, e subitamente se sentiu péssima. Por que ela estava sempre falando mais do que devia? — Bem disse Emma. - Tenha uma boa noite. Vou voltar para o meu escritório. — Você sabe que poderia ficar na minha casa — disse Mary Margaret de repente. Isso a surpreendeu, mas enquanto aquela oferta ficou parada no ar entre as duas mulheres, decidiu que parecia a coisa certa a fazer, de alguma forma. Que poderia dar certo, e que as duas se dariam bem. Deu um sorriso em seguida e acrescentou: — Quero dizer, claro, apenas até você conseguir se estabelecer, entende? Isso é... hã... muito legal de sua parte— disse Emma. — Mas devo lhe dizer que não sou de lato. o tipo de companheira de quarto. Sem ofensa, sabe? Mas foi muito gentil de sua parte, muito. Gostei mesmo. — Claro— disse Mary Margaret. E deu um passo para trás. Claro. O que for melhor para você. Elas se separaram, e Mary Margaret foi para casa, tentando se distanciar do sentimento de ser rejeitada duas vezes na mesma noite. No dia seguinte, iria como voluntária ao hospital. As pessoas de lá, pelo menos, ficariam felizes em tê-la por perto. O que a teria compelido a fazer esse tipo de oferta a uma pessoa totalmente desconhecida? Ela não sabia. Não tinha a mínima ideia. — ENCONTREI SEU PAI. Sentada ao lado de Henry na plataforma superior de seu "castelo", com as pernas penduradas, Emma olhou para ele. —Perdão, não entendi... —disse ela. Era sábado, mas Regina ficaria ocupada durante todo o dia, o que significava que Emma e Henry poderiam passar algum tempo juntos. Ela já viera se encontrar com ele ali antes, e isso realmente parecia bem melhor. Não havia razão para envolver Regina, nenhum motivo para fazer uma confusão de tudo isso. Duvido seriamente disso, rapaz, completou Emma. Porque certa vez Emma já tentara encontrá-lo. Encontrar os dois, pai e mãe. Não tinha ido muito longe, uma vez que as circunstâncias de seu próprio abandono quando bebê eram um pouco turvas. Não havia nada. Necas. Por isso, não havia uma chance em um bilhão de que esse moleque soubesse de alguma coisa que ela desconhecesse. Não, é verdade — insistiu Henry. — Ele esta aqui, aqui na cidade. O garoto se virou e pegou o tal livro. Emma olhou para o céu rapidamente, percebendo agora o que ele quis dizer. Ele só ficava indo e vindo, sempre com a mesma história... — Veja disse Henry, virando as páginas ate chegar a uma que mostrava um homem, um homem bonito, de queixo forte, olhos fechados. Seu queixo sangrava e ele estava deitado na grama. —É o Príncipe Encantado. Depois que Branca de Neve
o acertou com uma pedra e fugiu. Mas, escute, que tipo de versão distorcida da Branca de Neve você esta lendo nessa historia, garoto? — perguntou Emma, pegando o livro e folheando as páginas para trás, deixando os olhos vaguearem ao longo do texto. — É complicado — disse Henry —, mas o ponto é que ele está aqui, e é o amor verdadeiro da srta. Blanchard. e ela nem sequer tem ideia de que ele está aqui. Eu o vi. No hospital. Ele está em coma há muitos anos. Emma virou as páginas de volta para a imagem. — Esse sujeito? — perguntou ela, apontando para a figura. — O nome dele é John Doe — disse Henry. — Então, eles não sabem quem ele é. —E verdade, mas eu sei — disse ele. — E agora você sabe. E temos de fazer com que ele acorde, para então se lembrar da srta. Blanchard. Emma estava se prendendo à sua estratégia de seguir o que Henry dissesse. E a pergunta seguinte veio muito naturalmente: — Ótimo, e como vamos fazer isso? — Já pensei nessa parte —respondeu o menino. — Tudo o que precisamos fazer é levá-la para que ela leia essa história para ele. — Que história? — A historia dos dois se apaixonando... É importante. Emma não disse nada, apenas olhou para a agua. — O que foi? — perguntou Henry. —Você não acha que é isso? — Não, na verdade, acho que é respondeu Emma. Acredite ou não, acho, de verdade, que sim... Henry sorriu um sorriso radiante, irresistível. Então, você vai ajudar. — Claro que sim — disse ela. Mas vamos fazer isso do meu jeito. Não do seu jeito. Do meu. Entendeu? — DEIXE-ME VER SE ENTENDI — disse Mary Margaret, olhando para Emma com ceticismo. — Você quer que eu leia aqueles mesmos contos infantis que dei a Henry para esse John Doe? Que está mergulhado em coma profundo há anos no hospital? — Isso mesmo! — E quer que eu faça isso porque Henry acha que a história vai acordá-lo, porque ele é o Príncipe Encantado e eu sou a Branca de Neve, e nós somos almas gêmeas, e o verdadeiro amor pode destruir a maldição? — Sim —respondeu Emma, assentindo com a cabeça e mordiscando seu aipo uma vez mais. — Exatamente isso. — Isso é loucura. Emma ergueu a cabeça. — Um pouco — disse ela. — Mas não tanto assim. Elas estavam no apartamento de Mary Margaret, ambas sentadas no sofá.
Mary Margaret ficou contente quando Emma bateu à porta e, inicialmente, chegou a pensar que era sobre aquela oferta de dividirem o apartamento, mas Emma, que ao que parecia sempre fora muito direta, já começou a explicar sem rodeios o plano que envolvia aquele desconhecido no hospital. Era tudo ridículo. Mas Mary Margaret estudou a estranha mulher, pensando nas implicações do plano, no que isso significaria. Ela estava certa. Talvez não fosse tanta loucura assim. — E o que você não disse completou Mary Margaret — e que ele não vai acordar, Henry verá isso, e será uma forma gentil de mostrar que ele pode estar errado sobre essa maldição e tudo o mais... Emma deu um sorriso rápido, mordendo novamente seu aipo. —Mais ou menos por aí — disse ela. E, assim, Mary Margaret concordou. Por quê? Havia milhares de razões. Ela gostava de Emma Swan, gostou do plano para ajudar Henry, e da elegância simples daquela solução. Gostou, também, da oportunidade de ler para um paciente, um paciente muito bonito, na frente do Dr. Whale. Sim, essa parte era bobagem, mas, se ela estava sendo honesta, teria de admitir que notara John Doe várias vezes, todas as vezes que passou por ele e sentiu um vislumbre de tranquila familiaridade roçando em algum lugar de sua mente. Em seu caminho para o hospital, com o livro debaixo do braço, ela se perguntou se gostava de John Doe porque ele sempre estivera lá, sempre tão consistente, um homem sempre tão confiável. Não, ele não conversara com Mary Margaret, ele não tinha ideia de quem ela era, mas sempre permaneceu o mesmo. Ele era como ela. Estava sozinho, e preso ali em Storybrooke. Era incrível para ela como a vida parecia mudar pouco naquela cidade. Estava ali há tanto tempo, mas, a cada ano, as crianças pareciam ser as mesmas, seus confusos sentimentos sobre Storybrooke pareciam ser os mesmos, e sua solidão — alguma parte obscura de si mesma que simplesmente não acreditava que ela fora feita para ser uma pessoa caseira, que não conhece ninguém, que passa as noites ali sozinha, bebendo chá— , bem, essa situação nunca mudava. E como era Storybrooke, estagnada ou segura? Era ambas as coisas, estagnada e segura. Pequenas coisas como essa visita ao hospital funcionavam tanto como trabalho em si como para ocupar o seu tempo. Sentou-se na beirada da cama do desconhecido, deixou-se ficar confortável e abriu o livro. Olhou para as palavras, olhou de volta para John Doe. — Sei que é estranho disse ela. — Estou fazendo isto por uma amiga. Tente ser paciente comigo. Ela olhou através das amplas janelas de vidro e viu o Dr. Whale do lado mais distante do andar, fazendo sua ronda, a cabeça presa em uma planilha. Olhou de novo para John Doe e ergueu as sobrancelhas. — Desculpe se ficar chato. Ela leu a história que Emma tinha indicado, e a história lentamente tomou forma sozinha. Era sobre Branca de Neve como fugitiva, nada mais que uma ladra
que se escondia nos bosques; leu sobre o primeiro encontro com o Príncipe, e sobre o segundo encontro, e a combustão lenta dos sentimentos que começaram a brotar entre os dois, que tinham muito mais em comum do que poderiam imaginar. Mary Margaret não tinha lido o livro todo antes de dá-lo a Henry, e em um ponto ela fez uma pausa, olhou para John Doe e disse: — Talvez este livro não seja apenas para crianças. O que você acha? Para ela, parecia adequado a todas as idades. Ela viu a palavra de novo: "bandido". Alguém fugindo, alguém que quebrou as regras, alguém que viveu corajosamente, viveu de uma forma que não se encaixava nas normas sociais. Não, ela não era definitivamente uma bandida, não. Era uma pessoa boa, cuidadosa, gentil, cautelosa, cumpridora da lei. Ela não gostava de criar problemas. Não era como Emma Swan. Ela queria ser, mas não sabia como fazer isso. "Posso não ser uma bandida", pensou. "Mas tenho um coração bandido." Mary Margaret ainda estava presa na emoção da história quando chegou ao final. e seus olhos se moveram para as últimas linhas, sua curiosidade aguçada pelo conto. O Príncipe Encantado e a Branca de Neve estavam ficando juntos, mesmo que tivessem brigado o tempo todo. Leu: "... Um olhou nos olhos do outro; e não precisaram de palavras para expressar o que sentiam no coração. Pois era aqui. à sombra da Ponte dos Trolls, que o amor deles tinha nascido. E eles sabiam, não importa o quanto estivessem separados, que sempre encont...". Mary Margaret parou, com a voz presa na garganta. Impossível. Mas ela sentiu. Lentamente, já sabendo o que veria, deixou que seus olhos se movessem do livro para a mão esquerda, que o segurava. Seu coração, já batendo rápido, começou a disparar. A mão de John Doe estava em sua mão. Não apenas pousada em sua mão. Mas apertando-a. Ela se levantou, cobriu sua boca, afastando a mão dele da sua. Depois de um último olhar para os olhos dele, ainda fechados, ela foi procurar o Dr. Whale. BRANCA DE NEVE DEU UMA ÚLTIMA OLHADA em seus pertences, sabendo que provavelmente tinha se esquecido de alguma coisa importante, mas também atormentada demais para se preocupar com isso naquele momento. Sua casa no tronco da árvore não ficava longe do lugar onde roubara o tolo arrogante (e bonito) e o derrubara com uma pedra, e pensou então que seria mais prudente desocupar a área. Mas havia algo sobre aquele homem... Ela olhou para o seu pertence mais precioso: o pequeno frasco de cristal com uma quantidade minúscula de um potente pó de fadas. Havia aprendido a lutar com as mais diversas armas ao longo dos últimos meses, mas esta era de ordem superior. Magia. Com aquele pó ela seria capaz de derrubar ate o mais perigoso
dos inimigos. O plano dela, é claro, era utilizar o pó contra a Rainha Má. Ela não sabia como poderia vir a ter essa oportunidade, ou quando ela viria, mas, quando isso acontecesse, Branca de Neve estaria pronta. Prendeu o frasco ao redor do pescoço, amarrou o ouro em sua cintura e afastou- se da árvore. Deu um passo e então sentiu o chão debaixo de seus pés começar a se mover. E se mover para cima, na verdade. Uma rede, coberta de folhas. Antes que ela pudesse reagir, viu-se pendurada a seis metros de altura, amarrada, presa. — Oi, olá, você ai em cima ouviu-se uma voz, uma voz que ela reconheceu, e uma expressão sombria surgiu em sua testa. Era ele, o homem arrogante. Lá estava ele, com as mãos sobre os quadris, parecendo muito orgulhoso de si mesmo. — Eu avisei que encontraria você. — Ora, por favor... - disse Branca de Neve, pegando a adaga. Puxou-a e já estava prestes a começar a cortar a rede. — Ah-ah-ah-ah! - disse o Príncipe, vendo isso. Será uma bela queda, e tome cuidado, é bem possível que quebre o pescoço. Posso baixar você até aqui, com muito cuidado... Eles olharam um para o outro. ... Por um preço — acrescentou. — E essa e a única maneira que você consegue pegar uma mulher Capturando-a em uma rede? — E o meu método preferido de capturar ladrões, na verdade - respondeu ele. - Tenho vários outros métodos para a captura de mulheres. — Bem, você não e um verdadeiro Príncipe Encantado? — disse Branca de Neve. Ele sorriu diante disso. — Tenho um nome de verdade... — Não me interessa retrucou ela. — Você e o Príncipe e pronto. Tire-me daqui, Príncipe. Ele parou de sorrir. — Sem dúvida, assim que devolver o que é de minha propriedade. — Já se foi há muito tempo... Então, vamos ter de recuperá-la. Imagino que não tenha ido muito longe. Aquela bolsa continha um anel de casamento muito querido para mim. Ele me foi dado pela minha mãe, na verdade. — Ah, claro disse Branca de Neve, revirando os olhos. —Aquela chata na carruagem! Ah, ali! Claro que você se casaria com alguém assim. Deixe-me adivinhar. Ela é uma princesa. O casamente é e muito importante. — Você é incrivelmente rude para alguém na sua situação, presa em uma rede — disse o Príncipe. — Está ciente disso? — Por que eu iria ajudá-lo? — perguntou Branca de Neve. — Por que diabos iria ajudá-lo a encontrar o seu lindo anel? E o que você vai fazer? Vai me torturar se não achar o seu anelzinho?
— Não respondeu o Príncipe, e agora Branca de Neve podia ouvir em sua voz que ele tinha parado de jogar o seu jogo. Eu não faria isso, mas alguém mais sim, provavelmente. Ela o estudou através dos buracos da rede. Ele olhou de volta, sem pestanejar. — O que quer dizer? — Quero dizer que sei que você é Branca de Neve - disse —, e se você não me levar a essas joias, vou entregá-la aos homens da Rainha. - Dizendo isso, puxou de dentro do colete um cartaz dobrado de "Procura-se" e, depois de desdobra-lo, ergueu-o para que ela o visse. A semelhança era incrível. Ela duvidava que tivesse algum sentido protestar. A escolha é sua. Ajude-me ou eu a entrego. E tenho a sensação de que a Rainha não seria tão encantadora quanto eu. ELA CONCORDOU EM LEVAR O PRÍNCIPE ao lugar em que tinha vendido as joias, e ele imediatamente a baixou da armadilha, dizendo-lhe que confiava que ela não fugiria de novo, porque ele iria encontrá-la mais uma vez, não faria diferença. Por mais que ela pudesse ter gostado de acertá-lo no queixo com uma pedra (de novo), era mais razoável ir recuperar o anel. Durante três horas eles caminharam e conversaram pouco, e durante todo o tempo Branca de Neve bufava enquanto abria caminho pelo bosque. Logo atrás dela, o Príncipe caminhava casualmente, e havia algo na arrogância dele que ela detestava. Perto do meio-dia ele disse que deviam descansar e ela inclinou-se contra uma árvore, olhando para o oeste. —E o que é isso? — perguntou ele. Branca percebeu que estava brincando com o talismã que usava em torno do pescoço. — Não é da sua conta — disse ela, puxando a mão para longe do frasco de vidro. — Agora é disse ele, e com um movimento rápido arrebatou o delicado objeto e puxou-o do pescoço dela. — Cuidado! — gritou ela. — E uma arma. E pó de fada. Transforma qualquer inimigo em algo facilmente esmagável! O Príncipe, divertido, levantou uma sobrancelha e estudou o pequeno frasco de vidro. —É mesmo? — perguntou ele. — E então por que não usou isso contra mim? — Estou guardando para alguém que importa de verdade disse Branca de Neve. —Como a Rainha? —Não interessa. — É, talvez não disse o Príncipe. Mas diga-me, o que exatamente você fez contra ela para merecer tamanha ira? E impressionante. Ela odeia a si mesma, e por isso odeia todos os outros também, em especial a mim, aparentemente. Não fiz nada contra ela. O Príncipe estudou-a, e ela olhou para trás, ciente do fogo em seus próprios
olhos e sem fazer nada para esconder isso. Ele deu de ombros. — Muito bem, então — disse ele. — Ensine-me a bisbilhotar. E lhe devolveu o frasco. — O quê? — Exclamou Branca de Neve. Você está... me devolvendo? —Ele não estava jogando pelas regras de senhor e prisioneiro. — Sim respondeu ele, encolhendo os ombros novamente. Claro. Parece-me que você vai precisar disso. HENRY E EMMA SENTARAM-SE JUNTOS na lanchonete, à espera que Mary Margaret chegasse para contar como fora a leitura da história para John Doe na noite anterior. — Não quero que você tenha muitas esperanças — disse Emma, bebericando seu chocolate quente. — Nós... Os dois ergueram os olhos quando Mary Margaret, parecendo mais animada do que Emma jamais a vira antes, entrou na lanchonete e seguiu em linha reta para a mesa deles. — Ele acordou disse ela com simplicidade, deslizando para dentro do compartimento. Emma não queria nem adivinhar que tipo de sorriso se estampava no rosto de Henry. Não era esse o plano. — Eu... O que você disse? — perguntou ela. Ele agarrou minha mão. Bem no final da história. Ele está se lembrando— disse Henry. Assentiu com a cabeça para si mesmo, como se isso fizesse todo o sentido do mundo, e se levantou. — Vamos para o hospital— disse ele. —Vamos lá! — e correu para a porta. Emma inclinou a cabeça e olhou para Mary Margaret. O que você está fazendo? — disse ela. — Ele realmente segurou a minha mão! — insistiu Mary Margaret, parecendo-se mais com Henry falando do que Emma se preocupou em considerar. — Fizemos... Não sei, houve algum tipo de ligação. — Não é do tipo que tem a ver com as Brancas de Neve e os Príncipes Encantados, por acaso? Não, não — disse Mary Margaret. — Foi... apenas uma ligação. — Bem, então acho melhor irmos ver por nós mesmos — completou Emma. O XERIFE GRAHAM encontrou-se com todos eles na porta do hospital, com as mãos espalmadas para frente, o que fez Emma pensar que algo mais tinha acontecido. — O que aconteceu? — perguntou ela. Nada com que você tenha de se preocupar— respondeu Graham, olhando por cima de seu ombro. — Suponho que estejam aqui por causa do que aconteceu ontem à noite, não?
Entre John Doe e a Srta. Blanchard? Graham cumprimentou Mary Margaret com a cabeça, e Emma lembrou-se de que todas essas pessoas tinham relações. Só que não tinha ideia de qual seria a deles dois. — Mas o que há de errado? — perguntou Mary Margaret. —Ele está bem? —Não é que não esteja bem — disse Graham, virando-se e guiando-os pelo hospital. —E que ele se foi. — Como assim, se foi? — disse Emma. — Como isso é possível? Eles se aproximaram do dr. Whale, que balançava a cabeça, estudando um gráfico. — Não temos muita certeza — disse Graham. — Não é possível — disse o dr. Whale. — Cientificamente, pelo menos acrescentou. — E ainda assim ele não está aqui disse Emma. — Será que alguém o levou embora? — Não sei. O Dr. Whale ficou em silêncio, olhando acima dos ombros dos interlocutores. Emma ouviu o clique de saltos altos batendo no piso. Ficou tensa e virou-se a tempo de ver Regina caminhando em direção a eles. — O que elas estão fazendo aqui? — exigiu saber a prefeita. Que tipo de operação você está executando aqui, xerife? Isso é ou não a cena de um crime? —O que você fez? — Henry perguntou a Regina. O rosto dela se suavizou um pouco quando olhou para ele, ela inclinou-se e tocou-lhe o ombro. — Nada, Henry. Vim aqui para descobrir o que aconteceu com ele. Por que a prefeita se envolveria com uma pessoa desaparecida?— perguntou Emma. Regina se endireitou. — Porque sou o contato de emergência dele. —Você o conhece? — perguntou Mary Margaret. — Como? — Não o conheço, eu o encontrei disse Regina. — Anos atrás. Ao lado da estrada. Mas esperem... — disse Mary Margaret. Se ele está lá fora, em algum lugar, onde quer que esteja ele pode... Não se pode simplesmente acordar de um coma e ficar bem. — Ela olhou para o Dr. Whale. —Pode? — Ele ficou com tubos de alimentação durante anos, as pernas estão atrofiadas, e, se estiver consciente, deve estar desorientado e em pânico. Assim, respondendo à sua pergunta, não. Ele não está bem. Precisa voltar imediatamente Não quero especular sobre o que poderia acontecer a esse homem. —Então, encontre o — ordenou Regina, pegando a mão de Henry. — Este lugar não é para você disse ela. Vamos lá. Não quero que você ande com aquela mulher
Protestando com os olhos, Henry olhou para Emma conscientemente antes de ser arrastado para fora. Ela sabia o que estava se passando em sua mente. Encontre-o, ele estava dizendo para Emma. UMA HORA A MAIS em sua caminhada, Branca diminuiu o ritmo e, em seguida, parou o Príncipe colocando a mão em seu braço. — Tudo bem — disse ela, olhando em direção à ponte. Estamos aqui. Temos de ter cuidado. — Cuidado com os trolls? — perguntou o Príncipe. — Você está brincando? Você já se encontrou com um trolls? O Príncipe olhou para ela. — Então, temos de ter cuidado —ela repetiu, e em seguida levou-o até a ponte de pedra. Ela odiava trolls, mas eles não eram os piores parceiros de negócios. Sempre tinham ouro e sempre pareciam dispostos a comprar dela os bens roubados. Seu coração começou a bater um pouco mais rápido que antes, e Branca de Neve se aprumou, respirou fundo e, juntos, ela e o Príncipe saíram para ficar sobre a ponte. Ao vê-la olhando para si, ele sorriu de volta. E Branca se viu um pouco desarmada com isso, na verdade. O quê? — perguntou ela. — E agora? — disse ele, indo até a borda, olhando para baixo. Temos de fazer ruído de trolls? — Não — disse Branca, pegando a bolsa. Temos de bater à porta deles. Ela pisou na pedra coberta de musgo e depositou meia dúzia de moedas de ouro na borda da ponte. — Dê um passo atrás — ordenou ela, e o Príncipe obedeceu. Primeiro, ouviram o som de coisas raspando. Branca já tinha visto os trolls escalando a grande estrutura de suporte da ponte, e não tinha vontade de ver isso novamente. Eles eram como aranhas, só que ainda mais feios. Os trolls viviam lá embaixo, onde ela imaginava que devia ser uma imundície. Ela estremeceu só de visualizar como deveria ser... "Deus me livre de um dia encontrá-los naquele lugar", pensou. O Príncipe, com um olhar impertinente no rosto enquanto ouviam o som, disse: — Então, eles são... O líder dos trolls foi o primeiro a aparecer, pulando ao lado da ponte. Magro, trôpego, revestido de musgo e terra, ele se arrastou sobre a borda e se endireitou sobre seus oito pés. Branca tocou a mão do Príncipe, que ele havia movido para o punho da espada, e negou com a cabeça. Ele olhou para ela e deixou a mão cair ao lado do corpo. — Não é muito carismático, não? — murmurou. — Quem, em nome de Deus, é esse? — trovejou o líder dos trolls, apontando para o Príncipe. Depois, esticou lentamente o pescoço e olhou para ela. — E você, por que voltou? Nosso negócio já foi feito.
—Estou aqui para fazer um novo negócio — disse ela calmamente. Quero comprar de volta um item: o anel. O líder dos trolls franziu a testa, resmungou, olhou para um de seus compatriotas, que surgiu com um pequeno saco de estopa, cavou lá dentro e tirou um anel. Ele ergueu o objeto, e depois o deixou cair de volta no saco. — Não vou fazer negócio com ele aqui — disse o troll. —Perguntei uma vez e vou perguntar de novo. QUEM E ELE? Estas últimas palavras explodiram para fora dele, como se viessem de algum poço de raiva e tormento. Branca não permitiu que seu rosto mostrasse nenhuma emoção, mas estava com medo. Muito assustada. — Ele não é ninguém — respondeu. — Vamos fazer o negócio. E se eu lhe der todo o seu dinheiro de volta e você só me der o anel? Pode ficar com todo o resto. Ele inclinou a cabeça, pensando no que a garota dissera. Finalmente, depois de um longo e cético olhar para o Príncipe, virou-se para um de seus companheiros e assentiu. O outro troll puxou novamente o saco cheio de joias. — Obrigado — disse o Príncipe. E Branca pensou: "Não, não faça isso, não agradeça a ele". Mas o rapaz não captou seu olhar de advertência, e continuou com suas maneiras ridículas: —Apreciamos muito a sua ajuda. O líder dos trolls ergueu a mão, olhando para o Príncipe, dizendo para o outro troll esperar. — Olhe para essas mãos zombou o chefão, apontando para as unhas limpas do rapaz. E sorriu diabolicamente. — Olhe que traseiro bem alimentado... Esse sujeito é um nobre! O chefe dos trolls rosnou estas últimas palavras e Branca soube imediatamente que o negócio não prosperaria, pelo menos não de modo civilizado. Todos os cinco trolls puxaram suas adagas. — E daí? — perguntou o Príncipe, em tom de desafio na voz. Branca baixou a cabeça. Nunca admita isso — sussurrou ela. — Peguem o bonitão! — ordenou o chefe, e os outros se moveram em torno do Príncipe, que empurrou Branca para longe e ergueu a espada. Contudo, nem teve a chance de usá-la. Foi cercado e derrubado pelos velozes trolls com movimentos felinos, que se mostraram incrivelmente suaves e duas vezes mais rápidos que o seu aspecto desajeitado sugeria. Branca observou impotente enquanto eles rasgavam o saco que o Príncipe carregava e que continha todas as posses da jovem. Tudo o que o Príncipe havia tirado dela caiu ao chão, e logo um dos trolls tinha encontrado o cartaz dobrado de "Procura-se" nas vestes do Príncipe. O chefe da gangue desdobrou-o, deu uma olhada por muito tempo e balançou a cabeça, olhando para ela. Branca de Neve — disse ele. — Temos feito negócios com a Branca de Neve durante todo esse tempo! — ele riu. Que bela recompensa! —disse, e depois ordenou aos seus capangas. — Peguem a garota também! Dois dos trolls vieram em direção a ela, e, enquanto se moviam Branca
vislumbrou que o Príncipe estava se livrando dos outros. Ela se abaixou no último instante e os dois trolls a perderam. Enquanto se arrastava até a frente para recolher os seus pertences, bem como as joias, viu o Príncipe jogando um dos trolls nos outros dois, o que era impressionante, pensou, e imediatamente percebeu que ambos tinham agora o caminho livre para fugir. —Venha! — gritou Branca, e se virou para correr. Ouviu, então, os passos dele bem atrás dela e em seguida ele sendo derrubado. Branca olhou para trás e viu: outro troll havia subido pela ponte e agarrado o tornozelo do Príncipe bem na hora em que ele estava passando, e agora todos os outros estavam empilhados em cima dele. Se ela partisse, estaria livre e teria tudo. Mas ele estaria morto. Branca não pensou por muito tempo. Deixou cair a bolsa no chão e abriu o frasco do pó, tudo em um mesmo movimento, então girou nos calcanhares e voltou para onde estava ocorrendo a briga. O chefe dos trolls viu a chegando e lhe lançou um sorriso nojento: — O sangue real é o mais doce. Em resposta a essa frase, Branca jogou um punhado de pó em sua cara. O monstro virou uma lesma e caiu por uma rachadura da ponte. Os outros trolls vieram para cima dela e, um por um, ela atirou um pouco de pó neles, transformando-os em caracóis. Quando terminou, o Príncipe estava sozinho deitado na ponte, olhando para ela, abismado, enquanto alguns caramujos impotentes se arrastavam pelas travessas de madeira. O frasco do pó das fadas estava vazio. Você me salvou... disse ele, ficando de pé. — Obrigado! —Foi à única coisa honrada a fazer naquela hora - disse Branca. O príncipe olhou para o frasco vazio. Mas agora você não tem mais sua arma. — Mas vou pensar em outra maneira... — respondeu ela. — ... de matar quem preciso matar. Eu não podia ir embora e deixar o Príncipe Encantado morrer. —Tenho um nome, você sabe — disse ele. — É James. Bem, James... Prazer em conhecê-lo. Branca estava quase envergonhada pela maneira como ele estava olhando para ela agora, e sentiu-se corar. Virou-se de costas, para que ele não visse. — Vamos— disse ela.— Vamos sair daqui antes que mais desses trolls apareçam. —Ele acenou com a cabeça. Os dois caminharam juntos, lado a lado. Branca ouviu um som gratificante quando o Príncipe pisou, firme e deliberadamente, em um dos caracóis. EMMA, GRAHAM E MARY MARGARET vasculharam o bosque por horas, na esperança de encontrar o homem perdido, cada um deles lançando o feixe de luz da lanterna para frente e para trás nos troncos das árvores e nos arbustos grossos, espinhosos. Graham era um bom rastreador, e conseguiu seguir a trilha de John Doe por uma distância bem razoável, antes de perder os rastros. Mary Margaret
observou Emma, parecia estranhamente emocionada com tudo isso Emma se perguntou o que poderia estar acontecendo em sua cabeça. Provavelmente devia estar pensando que de algum modo era responsável por aquilo. Que Deus a ajudasse se ela estivesse achando que aquele era seu Príncipe Encantado, pensou Emma. Eles se separaram no ponto em que a trilha terminou, mas os três se reuniram de novo depois de trinta minutos de busca de pouco sucesso. Emma estava a ponto de sugerir que deviam esperar até de manhã para retomar a busca quando ouviram um barulho na direção do hospital. —Quem está aí? — perguntou Graham seca e decisivamente na direção do ruído. Sem responder, Henry apareceu na clareira, com o sorriso que era sua marca registrada estampado no rosto. Meu Deus, garoto disse Emma, indo em direção a ele. — Sua mãe vai me matar se souber que você está aqui fora. — Você já o encontrou? — perguntou Henry, olhando de Emma para o xerife Graham. — Desculpe Henry — disse Graham. — Ainda não. E Emma tem razão, precisamos levar você para casa. Posso ajudar, pessoal — disse Henry — Sei para onde ele está indo. —Para onde? — perguntou Mary Margaret. — E como pode saber disso? —Sei por que já conheço a história, entendeu? — respondeu Henry. —Venham! Escapou antes que Emma pudesse segurá-lo pela parte de trás da camisa, e, depois de um momento estranho em que um ficou olhando silenciosamente para o outro, os outros três correram atrás dele, chamando-o pelo nome. "Mas que moleque rápido", pensou Emma, esquivando-se à esquerda e à direita para evitar troncos pouco visíveis na escuridão. Ela corria depressa para manter a luz da lanterna firmemente para frente, mas só pegava vislumbres ocasionais da grande mochila de Henry saltando. — Ei, garoto! — gritou ela. — Vamos lá! Aonde você vai? Mas Henry não diminuiu o passo. Ele os levou pela floresta até que ela e Graham surgiram ofegantes, na clareira às margens de um rio que Emma ainda não tinha visto. Henry parou e se virou, esperando que eles se reunissem, porque Mary Margaret tinha ficado para trás. e então finalmente ela emergiu do bosque também. — É a ponte — disse Henry, apontando para a escuridão. Emma olhou para onde ele apontava. O caminho que levava para fora de Storybrooke atravessava o rio ali, seguindo por aquela ponte branca e enferrujada. Quando ela olhou para Henry, pronta para lhe perguntar o que estava falando, o menino já examinava o local ao redor, perto da linha das árvores. — Ele tem de
estar aqui, em algum lugar. — Ah, meu Deus disse Mary Margaret, com a mão sobre a boca. Apontou para o rio. — Vejam! — disse. — Ele está lá. Eu o vi! John Doe estava lá, de fato. Caído de bruços no rio, sem se mexer, e o camisolão do hospital ondulava em uma nuvem à sua volta. Graham foi o primeiro a chegar até o homem, vadeando o rio. Conseguiu erguer John Doe rapidamente e arrastou-o para a margem, e em seguida puxou o walkie- talkie do cinto e chamou uma ambulância. Enquanto ele falava, Mary Margaret ajoelhou-se, colocou a mão no peito de John e, lentamente, inclinou-se sobre o seu rosto. —Volte para nós — sussurrou em seu ouvido. Emma, sentindo-se desconfortável, porque estava certa de que aquele homem tinha morrido, observava sombriamente de cima enquanto Mary Margaret fazia respiração boca a boca no suposto cadáver. Emma não sabia exatamente como agir em relação a tudo aquilo. Não tinha coragem de dizer a Mary Margaret o que era óbvio. Segurando o pulso de John Doe, à espera de batimento, Graham provavelmente estava pensando a mesma coisa. Estaria ela louca ou Mary Margaret estava mesmo beijando John Doe? Pouco tempo depois, Henry estava de pé ao lado de Emma, observando a cena também. Ela sentiu uma intensa necessidade de cobrir os olhos do menino. — Ele vai ficar bem — disse Henry com conhecimento de causa. — Não se preocupe. Ela precisa beijá-lo para que acorde. Faz total sentido. Não é besteira. — Vamos torcer para que ele acorde garoto — disse ela, colocando a mão em seu ombro. — E não me importo se isso faz sentido ou não. Emma podia ouvir as sirenes à distância agora; Graham, assistindo a tudo com profunda expressão de tristeza, parecia estar à beira de parar Mary Margaret, impedindo a de continuar com aquilo. Ele olhou para Emma e ela deu de ombros. E então John Doe engasgou. Emma podia sentir a excitação de Henry com aquele som, e deu alguns passos em direção a eles, seguida por Henry Ela conseguiu acordá-lo —disse Henry Emma não sabia direito o que tinha acontecido. Virou a luz de sua lanterna no rosto de John Doe e ficou chocada ao ver que seus olhos estavam abertos. Ele estava olhando para Mary Margaret. — Obrigado — conseguiu dizer o homem. Ele enxugou o rosto, molhado da água do rio, e olhou em volta, confuso. — Meu nome é Mary Margaret. Você sabe quem você é? Ele olhou para ela, aparentemente procurando a resposta. — Não — finalmente respondeu. — Eu... eu não sei... MINUTOS DEPOIS A AMBULÂNCIA CHEGOU, e o dr. Whale e os paramédicos
levaram John Doe. Emma observou Mary Margaret, que olhava para eles com preocupação. Em um minuto, a ambulância se afastou. Ela entendeu mal, pensou Emma, olhando para Mary Margaret, que agora tinha começado a brincar com o seu colar. Devemos ir para o hospital e ver como ele está — disse a professora para ninguém em especial. Emma se aproximou. — Sim concordou, assentindo com a cabeça. Devemos ir até lá. Venha, vamos. Eles marcharam em silêncio até o degrau e escalaram a ponte, para atravessá- la. Emma sorriu um pouco quando viu a placa presa à ponte. Estava escrito, em simples letras pretas, PONTE TOLL, anunciando que um dia ela deveria ter tido um pedágio ou coisa assim. Mas alguém tinha achado divertido rabiscar um "R" entre o "T" e o "O"... O PRÍNCIPE E BRANCA DE NEVE tinham corrido quilômetros pela floresta antes de parar para respirar, sempre mantendo um ritmo acelerado enquanto mantinham boa distância dos trolls. Branca era uma corredora melhor que o Príncipe, ela logo percebeu, e diminuiu o ritmo (apenas ligeiramente). Depois de uma hora, a corrida tornou-se caminhada. Eles estavam seguros. Não havia mais nenhuma razão para ficarem juntos, reconheceu Branca. E ainda assim continuaram caminhando lado a lado, sem dizer nada. Andaram mais um pouco. Um pouco mais. Finalmente, depois de se passar mais uma hora, ambos chegaram a estrada, e lá existia uma bifurcação. Era o momento de partir. O Príncipe olhou para suas botas e disse; Bem. Isso tudo foi muito interessante... — Foi, concordo — disse Branca. — Você esmagou um deles quando fugimos... e olhou para ele maliciosamente. — Certamente não foi de propósito, foi? —Ah, não... — disse o Príncipe, fixando o olhar nos olhos dela. — Foi de propósito, sim. Achei aquele som de esmagar muito gratificante... Ela riu. E ambos riram um pouco, um de frente para o outro. — Acho que devemos fazer a nossa troca disse o Príncipe. Estamos indo em direções diferentes. — Você está certo — disse ela. Seus olhos pousaram nos olhos dele por mais um momento, e então ela enfiou a mão no colete e retirou de lá o pequeno saco de joias. Ele, por sua vez, pegou a bolsa com as moedas de ouro. Segurou no alto, deixou-a cair na outra mão e virou a palma para cima. Branca esvaziou ali o saco de joias. Ambos olharam para baixo enquanto ele vasculhava e achava o anel. — Eu sei, eu sei — disse ele, olhando-a nos olhos. — Não é o seu tipo de joias. — Quem sabe? — disse ela, arrancando o anel da mão do Príncipe. — Só há uma maneira de descobrir, certo? Ela sorriu e deslizou-o em seu dedo. O encaixe foi perfeito, e ela ergueu a mão, espalmando os dedos.
— Você está certo — disse ela. — Não é para mim. Ele assentiu com a cabeça, colocou o restante das joias de volta no saco, e tomou a mão dela na sua. Quando ele tirou o anel de seu dedo, disse: Se precisar de mais, pode ficar com todo o restante das joias. Esso não é necessário disse Branca. Nós dois conseguimos o que precisávamos hoje. Acho... —Sim. talvez sim — disse o Príncipe. O momento embaraçoso se passou, e Branca resistiu ao impulso de dizer algo bobo, para aliviar a tensão daquela situação. Mas não quis. — Boa sorte para você — disse ele. Então: — Se precisar de alguma coisa... — ... você irá me encontrar? — sugeriu ela, e um sorriso leve apareceu em seu rosto. Sim — disse ele. — Sempre... Você sabe que isso pode parecer loucura — ela disse —, mas acredito em você. Ele assentiu com a cabeça e deu um passo para trás. — Talvez devamos esperar e descobrir — disse ele. Balançou a cabeça de novo e olhou para a trilha que deveria seguir. E girou de volta para ela. —Adeus, Branca de Neve — disse. —Foi um grande prazer fazer negócio com você. — Adeus, Príncipe Encantado — respondeu ela, e girou, nos calcanhares, descendo a trilha a seu lado. Ela não se virou para olhar, porque não queria que ele visse que suas faces estavam muito coradas. ELES TINHAM DE ANDAR todo o caminho de volta ao pequeno hospital de Storybrooke, e no momento em que chegaram, Emma observou novos veículos estacionados na frente do prédio. Olhou com desdém para o Mercedes de Regina, em seguida para a ambulância estacionada em cima das listras de emergência perto da porta de entrada. Dentro do prédio, um grande número de enfermeiros, bem como o dr. Whale, estava reunido em torno da cama de John Doe, examinando-o. Emma notou outra mulher ao seu lado, alguém que não se parecia com um profissional médico. Era loira, alta, de aparência majestosa. Seu rosto estampava preocupação. Falou com John Doe lentamente, como se estivesse explicando alguma coisa, e ele olhou para ela. Assim que chegaram perto da cama de John, Regina os viu e veio interceptá-los. — Não tenho certeza do que você pensa que está fazendo nesta cidade— disse Regina, dirigindo-se a Emma, mas estou começando a ficar cansada das interrupções que você começou a causar. — Olhou para Mary Margaret e disse: — Parece que há um monte de novos... conflitos em Storybrooke desde que você chegou, Srta. Swan. Não acho que isso seja coincidência. Talvez não — disse Emma.
— Talvez você esteja certa. Regina olhou para trás, tentando compreender o que as palavras de Emma poderiam querer dizer. A própria Emma não sabia, mas gostou da reação que tinham causado. — Quem é... essa mulher? — disse Mary Margaret fracamente, ignorando o conflito surdo a seu lado, ignorando a raiva de Regina. Ela, por sua vez, estava olhando para a mulher loira ao lado de John Doe, que agora acariciava seu cabelo. — Seu nome é Kathryn disse Regina. — A esposa de John Doe. E o nome de John Doe é David. David Nolan. — São vocês? — perguntou Kathryn, olhando por cima, com um sorriso aliviado ainda pregado no rosto. — Vocês são as pessoas que o encontraram? Muito obrigada. Muito obrigada, mesmo— disse ela, saindo do lado de David e cruzando o quarto. Segurou as mãos de Mary Margaret nas suas e disse: — Não sei como lhe agradecer. — Não entendo disse Mary Margaret. — como você não soube que ele estava aqui? Antes? Uma cortina de melancolia tomou conta do rosto de Kathryn, e ela lentamente liberou as mãos de Mary Margaret, olhando para o grupo: — Nós... nós nos separamos. Há alguns anos. Foi sob... terríveis circunstâncias, uma briga feia. Ele saiu e me disse que estava deixando a cidade, que ia se mudar para Boston, que o casamento estava acabado. E acho que, durante todo esse tempo, apenas supus que ele estivesse lá, que tivesse... seguido em frente... — Ela olhou de volta para ele, que estava preocupado com o Dr. Whale. — E durante todo esse tempo, ele estava bem aqui - concluiu. — E você não tentou entrar em contato com ele nenhuma vez? — perguntou Emma com ceticismo. Ela não gostou daquilo. Não gostou da forma como aquela mulher surgira, tampouco do olhar de esperteza no rosto de Regina. — Claro que sim disse Kathryn, voltando-se. — Mas ninguém sabia onde ele estava. Se uma pessoa não quer ser encontrada, existe um limite ate onde você pode procurar por ela... — Olhou para Regina e sorriu calorosamente. — Mas a prefeita juntou as peças e me telefonou agora à noite. E inacreditável. Isto é, é como se estivéssemos começando de novo. Temos uma segunda chance. — Isso é tão lindo — disse Mary Margaret, sorrindo para a mulher. Emma duvidava que ela fosse à única pessoa no quarto que podia ver que aquele sentimento não era verdadeiro. Kathryn voltou para o lado da cama de David. — Vamos lá, Henry — disse Regina. — Hora de ir para casa. Quando passou por Mary Margaret, Henry olhou para ela e disse em bom tom: — Não acredite em nada disso. Ele acordou por causa de você. A história. Amor verdadeiro. O destino de vocês é ficarem juntos. —Henry! — disse Regina. Mas Henry correu, saindo do quarto. Regina,
sacudindo a cabeça em desalento, seguiu atrás dele. — Com licença — disse Emma às suas costas. — Senhora prefeita. Regina se virou. —Uma palavra antes de ir embora? Regina suspirou, balançou a cabeça em consentimento. As duas deixaram o quarto juntas. Henry já estava no estacionamento quando Regina parou de andar, e as duas mulheres se viraram uma para a outra. — O amor não é uma coisa linda? — perguntou Regina. —Estou tão feliz que essa história trágica tenha tido um final feliz. Isso nunca acontece... — Nada dessa história tem sentido disse Emma secamente. — Vamos deixar de lado esses joguinhos. —O que é que você acha, então? — perguntou Regina, de olhos brilhantes, parecendo estar se divertindo. — Que estou usando magia negra naquela mulher? Forçando a coitada a mentir? — Não, mas acho que está fabricando algo. — Não tenho ainda como saber o motivo. Mas isso cheira mal, seja o que for. —Você sabe Srta. Swan — disse Regina, caminhando de volta em sua direção, que coisas ruins acontecem. Mesmo em cidades pequenas como Storybrooke. Storybrooke é exatamente como qualquer outro lugar— disse Emma. Cheia de pessoas boas, com algumas pessoas podres jogadas na mistura. — Estou surpresa de que não fique feliz ao ver duas pessoas unidas — disse Regina. — Não há maldição pior no mundo que estar sozinho. Não é verdade? Regina sorriu e olhou por cima do ombro em direção ao estacionamento. — Tenho sorte de ter Henry — disse. Seria terrível não ter absolutamente ninguém... MARY MARGARET SENTOU-SE SOZINHA à sua própria mesa da cozinha, segurando um copo de água em uma das mãos, descansando a outra no colo. Enquanto seu prato de macarrão com queijo esfriava à sua frente, ficou pensando em tudo o que tinha acontecido desde que John Doe (seu nome era David, lembrou-se) havia tocado em sua mão. Tomou um gole de água, suspirou, fez os dedos correrem por entre os cabelos. Misturou alguns fios do macarrão no molho de laranja, pousou o garfo de volta no prato e girou o anel no dedo médio. Quando ouviu uma batida na porta, sabia que não poderia ser ele, pois deveria estar em casa com a mulher, no processo de reaprendizagem de sua própria história. Tinha visto os dois se abraçando. E, além disso, por que esperaria que um estranho batesse à sua porta? Ninguém queria esse tipo de coisa... Tentando se convencendo de que não esperava que fosse ele, abriu a porta e viu Emma olhando para ela. As duas mulheres se entreolharam. Mary Margaret viu-se então sorrindo, pelo menos um pouco.
—Olá, Emma — disse. — Oi. — O que eu posso... Está tudo bem? — Sim, tudo bem — disse Emma. O homem misterioso acordou e a Rainha Má está dormindo em sua torre. Somos boas. Mary Margaret riu suavemente e abriu a porta um pouco mais. Quer entrar? — perguntou. — Tenho um jantar pronto e poderia dividi-lo com você se... Na verdade, o que eu queria mesmo era saber se a sua oferta sobre o quarto ainda esta de pé — disse Emma. — Ah — disse Mary Margaret, legitimamente surpresa. Ela havia se esquecido de toda aquela história por conta das emoções desse dia. Mas ficou feliz que Emma estivesse ali. — Com certeza. Entre. Emma assentiu com a cabeça e entrou na sala. Deu uma olhada ao redor, obviamente satisfeita. Mary Margaret sentiu-se melhor. Não pretendia pensar muito no por que daquilo. — Mas que bela casa você tem disse Emma. E descansou a mão no balcão da cozinha. — Muito melhor que o banco de trás de um carro. — Isso é verdade — disse Mary Margaret, e as duas mulheres riram. — Mas estou contente que você esteja aqui — disse ela. — Realmente, Emma. Seja bem-vinda.

domingo, 29 de março de 2015

A Once Upon a Time Tale:Despertar Capitulo 2

CAPÍTULO 2
AQUILO QUE VOCÊ MAIS AMA











EMMA ACORDOU NAQUELA MANHÃ E FICOU SE PERGUNTANDO durante alguns instantes o que estava mesmo fazendo naquela cidade infernal. Mas logo se lembrou Sabia muito bem por que estava ali. Ainda se encontrava no banheiro quando ouviu uma batida na porta. Ao abri-la, surpreendeu-se ao encontrar Regina Mills sorrindo para ela. — Ah, bom dia! — disse Regina. Achei que seria bom parar aqui e lhe trazer um presentinho. Ergueu as maçãs que trazia em um saco de papel e entrou no pequeno quarto sem ao menos esperar pelo convite. Emma ficou olhando, cautelosamente. Tenho certeza de que vai gostar delas quando estiver em seu carro, na viagem de volta. — E acrescentou: — Pena que não tenha conseguido sair da cidade ontem à noite, depois de tudo... Olhando ao redor do quarto com desdém, Regina depositou as maçãs na bancada. — Decidi ficar — respondeu Emma, olhando para as maçãs. Mas... Obrigada. Tem certeza de que é uma boa ideia? — Perguntou Regina em tom alegre, e aparentemente nem um pouco surpresa com a notícia. Henry tem lidado com uma série de problemas emocionais. Acho que isso só vai contundi-lo ainda mais, não? — É que o fato de você já ter me ameaçado por duas vezes nas últimas doze horas — retrucou Emma finalmente —me faz querer ficar mais um pouco. — Como assim? — disse Regina. — Você considera essas maçãs uma ameaça? Eu não... — Sou bem capaz de ler nas entrelinhas, prefeita disse Emma, e cruzou os braços. — Acho que vou ficar na cidade até conseguir uma avaliação melhor da situação de Henry por aqui. Quero ter certeza de que ele está bem. — Entendo... — disse Regina. Você está preocupada com o fato de eu ser uma pessoa má, não é? Então, você anda lendo o livro dele também... Posso lhe garantir que ele está muito bem e que seus problemas estão sendo tratados. Henry não precisa de você. — O que isso significa? Significa que ele está fazendo terapia — respondeu Regina. Significa que vai aprender bem depressa que a realidade tem mais sentido que a fantasia. Como sempre digo a ele. E significa que apenas uma de nós sabe o que é melhor para o Henry. — Começo a achar que você está certa sobre isso. A audácia daquela mulher era inacreditável. Emma não conseguia se imaginar entrando tão corajosamente no espaço privado de uma desconhecida e falar assim
com tanto desdém, especialmente para alguém que poderia continuar na cidade por mais tempo. Regina lhe dirigiu um sorriso cruel e deu um passo adiante, em direção a Emma. Foi tudo ótimo — disse Regina, mas já está na hora de você ir embora de Storybrooke. — Ou então...? — replicou Emma, com os braços ainda cruzados Regina deu mais um passo em sua direção. Seus rostos estavam a menos de meio metro de distância um do outro, e Regina disse friamente: — Não me subestime, srta. Swan. Não tem ideia do que sou capaz. Emma fez uma pausa e considerou essas palavras. — Bem, então vai ter de me mostrar, não é? — respondeu Emma por fim. Os olhos de Regina se apertaram, restando apenas duas fendas estreitas. — Que assim seja. Dez minutos depois, sentindo grande necessidade de um café, Emma foi até a lanchonete. Também precisava pensar tentar entender por que Regina estava tão determinada a tirá-la da cidade. "Este lugar... Há alguma coisa que não se encaixa inteiramente em relação a este lugar... O que seria?", pensou Emma. Sentiu ainda mais essa estranheza quando viu o próprio rosto olhando para ela na capa do jornal da cidade, o Storybrooke Daily Mirror. Era uma foto de ficha policial. Emma comprou um exemplar do jornal e sentou- se a uma mesa. "Sério?" Pensou. "Você levou um dia para arrumar isso?" Quem quer que tenha escrito o artigo conseguira desenterrar muita coisa sobre a vida dela em um período de tempo bem curto. Seu nome era Sidney Glass; ele sabia que Henry tinha nascido em Phoenix e sabia também onde ela vivera desde então. Conhecia seu problema com a lei. Não estava tudo lá, mas o suficiente. Emma estremeceu. Era por isso que não gostava de cidades pequenas. — Aí está você. Emma afastou os olhos do jornal. A mesma garota da pensão, aquela que tinha discutido com a avó, estava ao lado de seu compartimento, sorrindo. Trazia uma xícara de chocolate quente e colocou-a sobre a mesa. Emma olhou para o nome escrito no crachá: Ruby. — Obrigada, Ruby, mas não pedi isso — disse Emma. — Eu sei disse Ruby. Ela sorriu e inclinou a cabeça. Emma ficou impressionada com o brilho vermelho do seu batom, era quase incandescente. — Você tem um admirador. Emma se virou para olhar pela sala e viu o xerife Graham sentado em um dos compartimentos. Ele estava tomando café e lendo o jornal também. A jovem se levantou e foi até ele, segurando a xícara de chocolate quente. — Então, decidiu ficar, não é? — disse ele agradavelmente. Emma ficou apenas olhando. — Gostaria de me acompanhar? — perguntou Graham. Fez um sinal para ela se
sentar. — Olhe, cara. O chocolate foi um gesto bonito. E é impressionante como foi capaz de adivinhar que gosto de canela no chocolate quente, mas não estou aqui a fim de namoro. Por isso, obrigada, mas não, obrigada, xerife. E abandonou ruidosamente a xícara na mesa em frente a ele. — Tudo bem, mas não fui eu que pedi isso— disse o xerife. Ele deu de ombros, olhando para ela inocentemente. — Fui eu — fez-se ouvir uma voz. Era Henry. Ele estava no compartimento ao lado, sentado tão agachado que Emma não pudera vê-lo. Também gosto de canela — acrescentou o menino. — Oi! Estou contente que você tenha decidido ficar... — Henry, o que você está fazendo aqui? — perguntou Emma. — Não tem aula hoje? — Sim, já estou indo — respondeu ele. — Você me leva até lá? Emma suspirou e lançou um olhar de desculpas ao xerife Graham. Ele sorriu gentilmente e voltou a ler o jornal. Havia alguma coisa naquele xerife que lhe agradava. Claro, ele estava sob as rédeas da prefeita e devia ser completamente dominado por ela, mas era um sujeito que parecia estar na dele... E também um tanto bonitão. Um tanto. Ela acenou dando adeus. Henry levou Emma para fora da lanchonete. — Nem acredito que você tenha ficado! Sério! — disse Henry quando eles já estavam na rua. — Agora as coisas vão funcionar! — O menino estava muito animado, e Emma sorriu. — Sua mãe preferia que eu fosse embora, acho — disse ela. — Não era minha intenção ter ficado... Ela não quer você aqui porque é a Rainha Má. Emma franziu o cenho. Henry parecia ter uma rica vida interior, mas ela não conseguia deixar de pensar no que Regina tinha dito ainda em seu quarto. O menino estava tendo sessões com um psiquiatra, pelo amor de Deus. E se tivesse algo de muito errado com ele? Será que fora certo alimentar essas fantasias, ter ficado ali? Ela não sabia. E teria de falar com Archie. — Explique-me o que você quer dizer com isso — disse Emma, pensando que seria melhor conversar com ele sobre algo que o entusiasmava do que repreendê- lo por inventar coisas. — O quê? A maldição? — Sim — disse ela. - O que é isso tudo? — Ah, legal, tudo bem! — disse Henry, ficando cada vez mais animado enquanto falava sobre esse assunto. — Quer dizer, você e eu precisamos desfazer essa maldição, entendeu? Esse é o nosso trabalho. E o primeiro passo da operação é a
"identificação". — Ele ergueu os olhos, confiante. A operação toda é chamada Operação Cobra. Emma ouvia atentamente enquanto Henry explicava sobre a maldição. Todas as pessoas que moravam em Storybrooke "Todas!" tinham vindo de outro reino A Terra dos Contos de Fada. Elas tinham vivido muito felizes por lá, e ostentavam identidades diferentes. E então, a fim de punir a Branca de Neve e o Príncipe Encantado por terem sido injustos com ela, a Rainha Má decidiu lançar uma maldição sobre todo o reino. Uma maldição segundo a qual ninguém jamais poderia ser feliz. Essa maldição havia transportado todos os que viviam na Terra dos Contos de Fada a este lugar, a este mundo no planeta Terra, um lugar que não tinha magia. Ninguém podia sair, o tempo havia parado, e ninguém sabia o que tinha acontecido. Todos estavam com amnésia, e todos tinham ficado presos ali durante vinte e oito anos, vivendo o mesmo dia infinitamente, de novo e de novo. Com exceção de Henry, que tinha descoberto tudo, por causa do livro e porque não tinha nascido na Terra dos Contos de Fada. A Rainha Má precisou pegar a maldição com sua antiga colega e inimiga, a Malévola explicou Henry. Ela foi ao castelo e lá tiveram essa grande batalha mágica, e a Rainha roubou a maldição do cetro da Malévola. Foi uma loucura de batalha! Emma assentiu, acompanhando o relato. — Mas, para que a maldição funcionasse direito - continuou o garoto, a Rainha teve de usar o coração de quem ela mais amava no mundo. Uau! — disse Emma. — Assustador! Eu sei! — concordou Henry. E adivinha o coração de quem ela acabou pegando para fazer o feitiço dar certo? Você nunca vai adivinhar! — Sim, não consigo imaginar de quem a Rainha Má poderia gostar... — O coração do pai dela! Ela matou o pai para fazer a maldição! Ei! — disse Emma. — Essa é uma raiva séria. — A melhor parte— disse Henry é quem você é. — Hã? Eu sou da Terra dos Contos de Fada? — perguntou ela. — Quem diria, hein...? Henry ignorou isso e explicou que ela era a filha da Branca de Neve e do Príncipe Encantado. EMma achou isso hilário. Henry explicou que aquilo não era tudo, porque Emma era a única pessoa que poderia quebrar a maldição. Estava tudo nas histórias. Ela era aquele bebê que nasceu pouco antes de a maldição cair sobre o reino. Ele girou sua mochila ao redor do ombro e retirou de dentro dela um conjunto de páginas, que Emma percebeu que deveriam ter sido tiradas do livro. Em seguida, Henry mostrou-lhe a ilustração de um bebê enrolado em um cobertor, com a palavra "Emma" bordada bem à vista. — Essa é a sua prova definitiva? — perguntou ela, olhando para a ilustração. — Há outras Emmas no mundo, como você sabe.
Emma pegou as páginas da mão do menino e começou a examiná-las, em busca de um nome de autor ou de uma data de direitos autorais. Mas não havia nada, nenhuma data, nenhum autor. Talvez no próprio livro, quem sabe... Ninguém parecia saber de onde tinha vindo essa coisa. No entanto, ela não podia negar que era mesmo uma coincidência que o bebê tivesse esse cobertor. Um cobertor que se parecia com o que a estava enrolando quando foi encontrada, o mesmo que levou com ela para todos os lares adotivos. Emma ainda o tinha em algum lugar, embalado em uma caixa lá em sua casa, em Boston. Mas aquela não era uma lembrança do tipo que a jovem gostava de reavivar, porque a maior parte das recordações que vinham junto eram dolorosas. Acho que você deve ler todas as páginas — disse Henry. — Esta parte aqui é a sua história. Sei que você não vai acreditar em mim até que leia tudo... — O menino balançou a cabeça para si mesmo, então disse: — Você não pode deixá-la ver essas paginas, entendeu? Não pode! Foi por isso que as arranquei do livro. Se ela vir isso, será... muito ruim... Emma olhou para o livro. — Sério? — disse ela, olhando para a imagem da Rainha. De fato, a ilustração se parecia um pouco com Regina, e por isso ela entendeu como Henry tinha se convencido de que tudo aquilo era verdade. Mais ou menos. — Muito ruim— continuou ele. — Muito ruim mesmo! Eles logo chegaram à escola. Antes de entrar, Henry olhou para ela, sorriu e disse: — Obrigado por acreditar em mim quanto à maldição. Eu sabia que você iria acreditar. — Isso quase a derrubou, ele estava levando aquilo a serio de mais. "Tudo bem, garoto, mas não acreditei em você nem um pouquinho!", pensou Emma. — Veja, eu não disse que acreditei, rapaz... — disse ela, pensando que provavelmente seria melhor ser honesta, mas de uma honestidade equilibrada. — Apenas escutei o que era absolutamente verdade. Ainda assim, Henry continuou a sorrir, em seguida virou-se e fugiu para a sua classe. Emma observou-o ir ainda sem saber como lidar com sua relação "interessante" com a realidade. Essa brincadeira da "Operação Cobra" parecia dar-lhe uma alegria sem fim, e algum instinto lhe disse que nunca seria uma coisa ruim deixar seu filho sentir alegria. Esse era o trabalho que uma mãe deveria fazer, não é? Mas outra parte dela pensou que talvez pudesse estar se comportando de forma imprudente, como aquela avó que se intromete e dá doces para o neto até que ele fique doente. Uma pessoa de fora que participa do jogo para conseguir ganhos de curto prazo e não se compromete com os objetivos de longo prazo. — E bom vê-lo sorrindo. Emma, assustada, viu que Mary Margaret tinha se aproximado.
— Oh, também acho que sim — respondeu ela. — Mas não fui a responsável. Foi à magia que fez isso... — Regina sabe que você ainda está aqui? Sim. Ela me encantou essa manhã com um discurso irritado. Muito, muito agradável. Como é que essa mulher conseguiu ser eleita servidora pública? Ela não tem habilidades sociais. — Parece que sempre foi a prefeita — disse Mary Margaret. Emma olhou para ela e levantou uma sobrancelha. — O que você quer dizer com isso? — Acho que todo mundo está com muito medo de concorrer com ela — continuou Mary Margaret. — E tenho a impressão de só ter piorado as coisas para Henry quando lhe dei aquele livro. — Onde você conseguiu esse livro? — perguntou Emma. — Vejamos... — pensou Mary Margaret. — Não estou totalmente certa... Aqui na escola, talvez? — Falando nisso, quem ele acha que você é afinal? — perguntou Emma. — Eu? Que bobagem... — Ela sorriu e olhou para baixo. — Na verdade, ele acha que eu sou... a Branca de Neve. — Uau! A Branca de Neve! — disse Emma, e acenou com a cabeça, impressionada. — Nada mal. — E quem é você? Emma olhou para ela e não quis responder, pois percebeu o que isso implicava quanto ao relacionamento delas. Emma surpreendeu-se com o fato de uma parte da sua imaginação brincar tão ansiosamente com a ideia, tentando se conectar com ela, ainda que por apenas alguns segundos. Era exatamente o tipo de coisa que ela costumava fazer quando ainda era criança, um jogo que jogava sozinha. "Fantasiando a mamãe" era como Emma o chamava, mesmo que nunca tivesse contado a ninguém o que ficava fazendo durante todas aquelas horas, escondida em guarda-roupas ou debaixo de árvores. Passava todo aquele tempo imaginando como seria sua mãe, quem seria, onde moraria, por que tinha sido obrigada a dar Emma para adoção... Aquela fantasia acabou criando, ao longo dos anos, uma imagem esmaecida em sua mente; era quase como uma lembrança. A mulher estava sorrindo e vindo em sua direção com os braços abertos, dizendo: "Emma, Emma", com uma voz doce e suave. Aquilo era bobagem. Criação da sua mente. Uma estupidez. Ela se deu conta disso quando estava com onze ou doze anos, e então desistiu de jogar esse jogo. Para sempre. — Eu? Ah, eu não estou no livro... — Isso mesmo — respondeu Mary Margaret. — Você é de algum outro lugar. Emma sorriu. — Mas tenho de ir ver o Grilo Falante. Mary Margaret franziu a testa. — O médico dele. Archie — explicou Emma. — Sabe onde posso encontrá-lo?
Ela sabia. E Emma se encaminhou para o consultório de Archie, perguntando-se se era inteligente o que estava fazendo, envolver-se na terapia de Henry, mas incapaz de voltar atrás. O mais provável é que ele não pudesse lhe dizer nada. Porém, novamente, ela era a mãe de Henry, afinal... Foi com estranha facilidade que ela se viu pensando em si mesma como a mãe de Henry, e pensou novamente no momento com Mary Margaret, o salto de fé. No caso de Henry, era verdade, ela era sua mãe, mas, ainda assim, o conceito era o mesmo, não? Você não sabe nada sobre uma coisa, depois acaba descobrindo e... Blam! Começa a repensar tudo. Precisava ter cuidado. Havia alguns pontos sensíveis em sua psique, em que ela se sentia vulnerável. Por muitos anos desenvolvera uma couraça, e agora, em apenas alguns dias, estavam aparecendo fissuras. Se surgissem muitas, alguém acabaria por explorá-las. Na porta do consultório, Archie sorriu e a cumprimentou, convidando-a a entrar na pequena sala. Assim que entrou, Emma disse-lhe que precisava conversar sobre Henry. Ah, não, eticamente na realidade não devo... — Sei, sei. Entendo. Sigilo da relação médico paciente. Só quero saber uma coisa. Talvez você possa quebrar as regras apenas por uma vez... Archie ficou mais relaxado e cruzou os braços. — Do que se trata? O que causou isso? — perguntou Emma. Essa simples pergunta martelara em sua mente durante toda a manhã. — Por que ele está confuso quanto ao que é ou não real? Ele está... Louco? Ou é apenas a sua imaginação? Acho que devo saber se ele está doente ou apenas... Não sei... Qual é de fato, o diagnóstico? Archie pareceu ficar aflito com a pergunta, especialmente pelo uso que ela fazia da palavra "louco". Ajustou os óculos nervosamente, sacudiu a cabeça um pouco mais e caminhou com ela até sua mesa. — Por favor, não fale assim dele... Por favor, não diga que você acha que ele é louco, isso seria terrível. — Fez um gesto para que ela se sentasse, sentando-se também. — Essas histórias são a sua linguagem. Pense nisso dessa forma. E assim que Henry se comunica com o mundo agora. Ele já passou por tanta coisa... — Essa é a comunicação dele, Srta. Swan. E é uma coisa boa! Ele está lidando com seus problemas. Exatamente! — Quais são os problemas dele, então? — Era a sequência lógica. Archie pareceu perceber para onde Emma estava indo. Franziu os lábios e inclinou a cabeça. — E Regina, não é? Ela está deixando o menino infeliz, é isso? — Não, não, isso e um exagero, uma conclusão muito simplista disse Archie. — Claro que não. Ela é uma mulher complicada e uma mãe bastante severa, mas é boa mãe também.
Ele assentia com a cabeça ao dizer isso, observou Emma. O psiquiatra parecia acreditar no que estava dizendo. — Como é seu relacionamento com sua mãe? Entende o que quero dizer? Outra seta diretamente no coração. — Você obviamente não leu o jornal da manhã — retrucou Emma. O que isso tem a ver com... — Sou adotada também — respondeu ela. — Não conheço minha mãe. Ah... — exclamou Archie em voz baixa, como se isso tivesse sentido para ele. Assentiu com a cabeça para si mesmo, tocou o queixo. — Entendo... Bem, você compreende o que quero dizer. Os relacionamentos com as mães são sempre complicados. — Sorriu. —E com os pais também. — Algo me diz que as coisas são ainda mais complicadas quando se trata de Regina. —Ela tenta, mas pressiona demais e deixa as coisas mais difíceis— continuou Archie. Aparentemente lutando com outra coisa agora, ele suspirou, em seguida abriu um armário de arquivos. — Leve este arquivo e dê uma lida, você verá. Emma franziu o cenho, cética. O médico estava agindo de forma estranha; algo estava errado. —Por que está fazendo isso? —Porque ele se preocupa com você —respondeu Archie, entregando-lhe o arquivo. — E eu me preocupo com ele. Emma pensou naquilo. Algo parecia muito errado, com certeza, mas ela queria o arquivo. O que quer que Archie estivesse fazendo, ela tinha certeza de que seria capaz de lidar com aquilo. Mais segura, estendeu a mão e pegou a pasta. Simples matemática, não é doutor? —Exatamente — disse ele, ajeitando os óculos novamente. Emma levantou-se, e ele parou para vê-la ir embora. NÃO DEMOROU MUITO PARA QUE EMMA percebesse que seus instintos quanto ao bom doutor estavam certos. Poucas horas se passaram depois de sua visita ao psiquiatra, e o xerife apareceu "misteriosamente" em sua porta, olhando-a severamente. — Sinto muito, srta. Swan — disse Graham, mostrando-lhe as algemas. — Mas você está presa. Emma não podia acreditar no que estava ouvindo. Ela estava na porta do seu quarto, depois de ter acabado de tomar banho e trocar de roupa. O xerife olhou para ela com simpatia nos olhos. Ela havia aberto a porta esperando encontrar a Vovó com uma nova muda de lençóis limpos. Mas, em vez disso, Graham a estava informando de que ela era acusada de ter discutido com Archie e roubado o arquivo de Henry de seu consultório. —Foi ele que me deu o arquivo —disse Emma ao xerife, entregando-lhe o documento. Isso é ridículo. Você não percebe que foi Regina que armou tudo, não?
Ela está de alguma forma, forçando-o a dizer isso. —Vou ter de algemá-la — disse Graham. —Sinto muito. —Tudo bem —disse Emma.— Prenda-me novamente. Tem algum problema? Prenda Emma! —Ela se virou e fechou os punhos atrás das costas. -Que bela polícia... Na delegacia, enquanto ele tirava a foto para o prontuário, Emma perguntou ao xerife sobre Regina. — Toda esta cidade tem medo dela. Você sabe disso, eu sei disso. Por que não fazer alguma coisa? Onde mais ela pôs as suas mãos? — Ela é a prefeita — disse Graham. —Suas mãos estão em tudo. —Em tudo? — perguntou Emma, erguendo uma sobrancelha. —Olhe... disse ele, levando-a até a cela. —Você está aqui há dois dias. Ela está aqui há décadas. Talvez você não saiba de tudo, certo? — Eu sei o que roubei e o que não roubei — disse Emma. — Archie está mentindo. Mais uma vez, Graham não disse nada. Mas Emma podia jurar ter visto algo em seus olhos. ELA SE SENTOU NO CATRE DA CELA, furiosa, antes de ouvir uma voz familiar e então se levantar de novo. — Ei, você tem de deixá-la sair! Era Henry. Ele entrou na sala da delegacia, na frente de Mary Margaret Blanchard. Graham, surpreso, ergueu os olhos de sua mesa. —Henry, o que você está fazendo aqui? — perguntou o xerife. E se virou para a professora do menino, confuso. —Srta. Blanchard? — Estamos aqui para ajudá-la — disse Henry. Então, depois de olhar para Emma, sorriu e disse: —Bem, ela é que vai pagar a fiança. Não tenho dinheiro. —Por que você faria isso? —perguntou Emma. Mary Margaret parecia envergonhada e começou a procurar em sua bolsa. Eu... Eu não sei — disse ela. —Confio em você. O xerife parecia um pouco surpreso com o rumo dos acontecimentos, mas levou na esportiva. Enquanto Mary Margaret e Graham cuidavam da papelada. Henry deslizou para mais perto da cela. — Bom trabalho — sussurrou para ela. Emma inclinou-se e sussurrou de volta: — Bom trabalho com quê? — Em ser presa! Esse era o plano. Eu entendo. - Henry assentiu. Buscando informações. Operação Cobra, certo? —Claro garoto — ela sussurrou de volta. —Algo a ver com isso. — Ok, então disse Graham do outro lado da sala, segurando uma folha de papel. Mary Margaret sorriu, acenou com a cabeça. — Parece que tudo está em ordem.
Emma ficou de pé. — Ótimo — disse ela. Agora, deixe-me sair daqui. E então olhou para Henry. — Tenho algo a fazer. EMMA FOI DIRETAMENTE para a loja de ferragens. Ela era boa em achar pessoas, sim. Fora isso, possuía um talento especial para dizer quando alguém estava mentindo. Ambas as qualidades tinham ajudado muito em sua carreira, de caça aos criminosos por recompensa, mas ainda havia uma terceira qualidade, aquela ligação meio oculta e indistinta entre essas duas, o que a tornava realmente excepcional naquilo que fazia. Pressionada o bastante, ela pode achar fissuras em couraças também. Sabia muito bem atingir as pessoas onde mais sentiam. Se quisesse, Emma poderia descobrir essas fissuras, e, quando o fizesse, não teria medo de atirar. Ela encontrou uma serra com motor de dois tempos, pediu a um funcionário da loja que a tirasse da caixa e a abastecesse, e pagou-a com cartão de crédito. —Vai trabalhar no jardim? —perguntou a mulher de trás do balcão. — Não, na verdade, não — respondeu Emma. Mas quem aquela mulher pensou que ela fosse? Tome algo valioso de mim, pensou, e retribuirei o lavor. Esse pensamento se movia em círculos dentro de sua mente; a raiva de Emma a impedia de andar para muito mais longe enquanto caminhava pela Rua Principal. Ela ligou a serra e puxou o cordão enquanto caminhava pelo canteiro, olhando para a macieira de Regina. As maçãs significavam alguma coisa para aquela mulher, Emma sabia disso. Quando alcançou o tronco da árvore, hesitou. Então decidiu não derrubar a coisa. Um tronco importante já seria o suficiente. Um dos maiores. Seria uma ferida, mas não uma ferida mortal. Seria apenas o começo. Emma não se sentia completamente pronta para usar a opção nuclear. A serra cortou o galho com relativa facilidade, e ele emitiu um sonoro CRRRAAAAAACC pouco antes de despencar da árvore para o solo. Emma sorriu e deu um passo atrás. Não precisava erguer os olhos para a janela... Sentiu que Regina estava lá, vendo isso acontecer. Após um momento de silêncio, com o cheiro de gasolina e óleo impregnando o ar, e a árvore ferida não reclamando afinal, Regina explodiu para a rua. — O que você está fazendo? — gritou a prefeita, caminhando em direção a Emma, que levantou a motosserra como uma arma. A serra não estava ligada, e Emma não tinha a intenção de cortar Regina ao meio. Ainda não havia chegado a esse ponto. Ainda não. — Vim colher maçãs... — respondeu friamente. —Você está maluca! Emma deu um passo adiante e encarou Regina em frente à árvore partida. — Não. Quem está maluca é você, se pensa que um golpe malfeito para me acusar de um crime não existente vai me amedrontar. Terá de fazer melhor que isso, minha senhora. Venha atrás de mim de novo e voltarei para acabar com esta
casca cheia de vermes. Por que, irmã? Sabe por quê? Porque você não tem ideia do que sou capaz de fazer. Virou-se e foi embora, deixando Regina ao lado do galho caído, sem palavras. Por cima do ombro, Emma disse: "É sua vez". ALGUMAS HORAS DEPOIS, tendo finalmente esfriado a cabeça após uma caminhada no bosque, Emma voltou à Pensão da Vovó com nova determinação. Ainda não sabia como, mas descobriria alguma maneira de fazer parte da vida de Henry. Não iria a lugar nenhum, ficaria bem ali, em Storybrooke. Vovó, parecendo bastante desconfortável, parou-a no corredor. — Sinto muito, querida — disse a senhora. Mas temos uma política de não aceitar criminosos aqui. Vou ter de pedir que vá embora. — O quê? — exclamou Emma. O que foi? A reportagem do jornal? O que aconteceu de manhã? Vovó assentiu tristemente. Emma, já não mais surpresa com nada que pudesse acontecer naquela cidade, entregou a chave do quarto. E deixe-me adivinhar — disse ela. — Foi um telefonema da prefeitura que a lembrou de sua própria política... Tentamos manter as coisas seguras para os nossos hóspedes — disse a Vovó, pegando a chave. — Isso é tudo. Bem, já morei em um carro antes, pensou Emma. Arrumou suas poucas coisas e levou-as para o seu VW. —Mas o que... Emma apertou os olhos enquanto se aproximava do carro com suas sacolas. Havia uma trava de imobilização na roda dianteira. Regina novamente. Será que essa mulher não dava uma pausa? Assim que pensou nela, o celular de Emma tocou. Ela não reconheceu o número. No entanto, logo pôde reconhecer a voz. Era Regina. Queria fazer um acordo. EMMA SE AFASTOU DO CARRO e foi caminhando quase um quilômetro ate o prédio da prefeitura. Emma e Regina se cumprimentaram de forma tensa, e a prefeita fez sinal para ela se sentar. Serviu uma bebida, que não era sidra dessa vez, para sua convidada e preparou uma para si mesma. —Obrigada por ter vindo— disse Regina. —Eu gostaria que isso ocorresse de forma civilizada. Acho que podemos dar um jeito na situação. —Dar qual jeito, em quê? — perguntou Emma. — Em tudo isso respondeu Regina. — Você. Aqui. Tenho a sensação de que esta mais determinada que nunca a ficar na cidade. E não sou cega. Sei que ficar no caminho do meu filho só vai fazer com que ele deseje algo ainda mais do que já quer. Emma se descontraiu um pouco e se afundou na cadeira. Respirou fundo.
— Tudo bem — disse ela. Estou ouvindo. — Eu aceito que você esteja aqui para tirar o meu filho de mim. Lá estava. Emma pensou por um momento e depois disse: — Não é por isso que estou aqui. Então, qual é o motivo? — perguntou Regina. Emma não tinha absoluta certeza de todos os seus motivos. Aliás, estivera lutando com essa mesma pergunta durante todo aquele dia. — Estou preocupada com Henry, francamente — disse ela por fim. — Ele acha que todo mundo nesta cidade é um personagem de conto de fadas. Isso não é um bom sinal. Regina assentiu. E você não acha que isso seja verdade, presumo. —É claro que não! Não acho que minha mãe seja a Branca de Neve e não acho que você seja a Rainha Má. Henry está tendo muita dificuldade em distinguir a fantasia da realidade. Tudo isso é uma loucura. Emma franziu o cenho, vendo o sorriso de Regina. Seus olhos tinham se movido quase imperceptivelmente para a direita. Emma então se virou para olhar a porta do escritório. Henry, estampando tristeza no rosto, olhava para ela. — Você acha que estou louco? — perguntou ele, com os olhos úmidos. O coração de Emma subiu à garganta. — Henry, não, eu... Mas já era tarde demais, e ele fugiu. Antes de Emma poder ficar de pé, Henry tinha desaparecido de vista. Furiosa, ela se virou para Regina. — Você fez isso de propósito. Sabia que ele estaria aqui! — Claro que eu sabia que ele estaria aqui disse Regina friamente. — Ele é meu filho. Henry vem para cá às cinco horas da tarde, precisamente, toda quinta-feira. Não sei se você sabe, mas as mães acompanham os filhos... Emma, com o pulso acelerado, sentiu sua raiva se misturar com tristeza e arrependimento. Havia perdido a batalha, tinha magoado Henry. Não importava como isso tinha acontecido. Fora uma idiota por ter vindo até ali. — Você não tem alma — disse ela a Regina. Era tudo o que pôde pensar em dizer antes de correr para fora, atrás de Henry. ELE ESTAVA NA TERAPIA, no consultório de Archie. Emma viu os dois através da janela enquanto corria até o prédio. A rápida olhadela lhe disse tudo o que precisava saber. Henry estava sentado em sua cadeira, curvado e deprimido, e essa visão partiu seu coração. Ela não conseguia ver seu filho assim triste, e vê-lo feliz lhe trazia muita alegria. Talvez fosse essa simples bússola o que poderia guiá- la. Entrou no consultório sem bater, e ambos, Henry e Archie, olharam com surpresa para a pessoa que invadia a sala. — Preciso falar com você — disse Emma. Archie ficou de pé imediatamente. — Srta. Swan, isto é altamente irregular— disse ele, com a mão estendida para ela. Emma olhou-o diretamente nos olhos e o psiquiatra murchou. Archie começou
a remexer nos óculos. Sinto muito sobre o arquivo. Ela me disse que... — Está tudo bem, Archie — disse ela. Não estou nem um pouco preocupada com isso agora. E virou-se para Henry. Preciso que você saiba que fiquei na cidade por sua causa. Estou aqui por você. Não acredito que você seja louco. O que acho é que esta cidade é uma loucura e essa maldição e uma loucura, mas isso não significa que eu ache que você esteja louco. Henry parecia um pouco cético no início do discurso, mas sua postura foi melhorando enquanto Emma continuava a falar. Encorajada, Emma puxou o maço de papéis da bolsa e disse: — Eu li estas páginas. Você estava certo, são perigosas. E só há uma forma de mantê-la longe da minha história e conhecer tudo sobre mim caminhou até a lareira e lançou os papeis lá dentro. — Ela nunca mais poderá ler estas páginas. — Todos ficaram vendo os papéis queimarem. — Agora estamos em vantagem. Henry sorriu. —Brilhante! — gritou. Emma olhou para Archie esperando um olhar de advertência da parte dele, mas pôde ver que ele estava satisfeito com o modo como aquele simples ato tinha deixado o menino tão feliz. — Eu sabia que você estava aqui para me ajudar! — exclamou Henry. — E isso aí, garoto— disse Emma. — E por isso que estou aqui. Nem mesmo uma maldição pode deter isso.




Continuar...

sábado, 28 de março de 2015

A Once Upon a Time Tale:Despertar Capitulo 1

Parte um
Corações errantes 


CAPÍTULO 1


BEM-VINDO A STORYBROOKE
                                                            








ELA VINHA CAÇANDO RYAN MARLOW HAVIA CERCA DE três semanas, desde que ele tinha esvaziado as contas bancárias da família e fugido de Nova York, sob o peso de acusações de peculato. Por que motivo Ryan decidira parar em Boston a fim de namorar um pouco online era uma incógnita, mas Emma Swan não se importava nem um pouco com o que os fugitivos que ela rastreava fizessem ou deixassem de fazer. Ela não era paga para tomar conhecimento das histórias deles; recebia para descobrir onde estavam, capturá-los e levá-los para a cadeia. Emma levantou-se e ficou observando o rapaz, um pouco incomodada com os saltos altos. Marlow ainda não a tinha visto, e ela o olhou por um instante. Era bonito, exatamente como aparecia nas fotos, mas também possuía algo de bajulador. O que completava o quadro, é claro, porque arrogância e petulância pareciam ser a regra entre esses banqueiros. Havia algo em sua fria autoconfiança enquanto ele esperava, o que na verdade a deixou enjoada. Ela se aproximou de Ryan. — Ah, você deve ser Emma — disse ele, levantando-se quando ela se aproximou da mesa, e ela estampou seu melhor sorriso de boas-vindas, estendendo-lhe a mão. Franziu a testa ao ver suas unhas... Tinha se esquecido de pintá-las... Ele abriu um sorriso largo e lascivo. Como um lobo. Eles se cumprimentaram com um aperto de mãos, e o homem manteve os olhos fixos nela. Ryan— disse ela. Enquanto se sentava, Emma depois de ver algo em seus olhos, sorriu para ele e disse: — Bem, você parece aliviado. Sinto muito disse ele, rindo nervosamente. - Nunca sabemos como será a aparência de uma pessoa quando a conhecemos pela internet, entende? — Ele foi para o seu lugar e se sentou. E você, bem... E muito bonita, tanto on- line como na vida real. Emma não corou, apenas baixou os olhos, fingindo se sentir lisonjeada. Como era mesmo que estava escrito no perfil on-line dele? Divorciado, sem filhos, gostava de ioga e de basquete? Certo. Emma conhecia a história da "vida real" dele. La em Nova York, ele tinha três filhos, todos com menos de dez anos de idade, e uma esposa que trabalhava meio período para tentar se virar sozinha. Naquele exato momento, a esposa estava tentando conseguir alguma ajuda da Previdência Social. Arrasada. Falida. Precisando explicar aos filhos onde estava o papai.
Essa era a vida real. E ali estava Ryan Marlow, que ainda tinha vontade de namorar depois de fazer isso com outra pessoa. — Então - disse Ryan. — Fale-me um pouco de você, Emma. Emma deu seu sorriso mais sensual. — Bem disse ela. - Em primeiro lugar, devo dizer que sou muito boa em julgar o caráter dos outros. Ryan Marlow pareceu surpreso. Ela ia adorar acabar com esse cara. EM OUTRO MUNDO, EM OUTRO TEMPO. Branca de Neve estava de mãos dadas com o Príncipe Encantado no salão de baile do Castelo Real. Todos os súditos do reino cercavam o casal. Os dois se olhavam nos olhos enquanto o bispo perguntava a Branca se ela queria ficar com o Príncipe para sempre. Não houve hesitação. Ela disse nervosa e amorosamente que sim, e os dois sorriram um para o outro, enquanto o bispo os declarava marido e mulher. Os músicos da corte começaram a tocar, e o Príncipe e Branca se inclinaram para se beijar uma vez mais. Tinha sido uma espécie de milagre. O Príncipe havia despertado Branca de um sono amaldiçoado, provocado por sua madrasta, a Rainha Má. E, como se viu, eles ainda não estavam livres dela. Dessa vez, assim que seus lábios se tocaram, um tremendo estrondo de trovão sobrepujou a música, e muitos no salão gritaram. Os convidados se viraram todos ao mesmo tempo em direção às grandes portas do salão de baile, onde o som se originara, que tinham se aberto de repente com grande violência, atingindo as paredes de cada lado da entrada. Lá, no limiar das portas, havia uma figura toda de preto. A Rainha Má. Novamente. "Maravilhoso" pensou Branca. "Mais um pouco disto." Os guardas correram quando ela começou a caminhar em direção a Branca e ao Príncipe, agarrados um ao outro no centro do salão. A Rainha enviou meia dúzia de guardas pelos ares com apenas um movimento da mão... Sua magia continuava poderosa, não havia dúvida. Quando ela já estava perto deles, Branca empurrou o Príncipe para trás, agarrou o punho de sua espada e a desembainhou antes que ele pudesse detê-la. Branca de Neve apontou a lâmina para a Rainha, com os olhos flamejantes. Você não ê bem-vinda aqui disse, e sua voz forte ecoou pelo enorme salão. — Vá embora. A Rainha parou de andar, mas continuou sorrindo. Olá novamente, Branca de Neve — disse ela. O Príncipe, segurando a mão de Branca, empurrou lentamente a espada para
baixo até que sua ponta tocasse o piso de pedras. — Ela não tem mais poder — disse ele a Branca, calmamente. — Nós já vencemos. O Príncipe estava certo, ela sabia - depois que ele a despertou da maldição da Rainha, ambos uniram o reino contra ela, destronando-a e permitindo que o amor voltasse a reinar. Deixe-nos em paz disse o Príncipe, dirigindo-se à Rainha. Você já foi derrotada, e não permitirei que estrague este dia. Nem mais um dia. Deixe nos desfrutar nossa felicidade, você foi derrotada. Pelo contrário disse a Rainha. Não estou aqui para estragar nada. Vim apenas lhes dar um presente. — Não queremos nada! Disse Branca rapidamente. Não lhe importava o que quer que fosse. E, no entanto, vou dá-lo a vocês disse a Rainha. Levantou uma sobrancelha. — Muito generoso da minha parte, não acham? A Rainha era linda e aterrorizante ao mesmo tempo. Possuía feições severas, cabelos negros como ônix, olhos penetrantes e gelados. Talvez um dia, há muito tempo, ela tivesse sido uma jovem e inocente donzela, a mais bela do mundo, mas agora todos podiam ver que o ódio e a amargura haviam extraído todo o calor do seu rosto. Branca a conhecia há muito tempo, e, a cada vez que a via, a Rainha se mostrava mais amargurada. A jovem não conseguia entender como uma pessoa poderia odiar tanto. Enquanto a Rainha Má falava, mais guardas invadiam o salão, cercando-a, mas o olhar da mulher não vacilou um instante sequer: —Meu presente para vocês é a felicidade — disse ela. — Esta felicidade. Hoje. —O que você quer dizer com isso? — perguntou cauteloso o Príncipe. — Quero dizer que amanhã, meu caro Príncipe — respondeu a Rainha -, começarei o trabalho da minha vida. Destruir a felicidade de vocês. Permanentemente. Ante isso, o Príncipe já tinha ouvido demais, e lançou sua espada em uma manobra ultrarrápida. Ela voou em direção à Rainha, com a ponta para a frente, atingindo-a bem no coração. Pouco antes de acertá-la, porem, a Rainha desapareceu em uma escura nuvem de fumaça negra e roxa. E com ela desapareceu também a espada. Branca de Neve, com a mão no braço daquele que se tornara seu marido, ficou observando a nuvem rodopiar e se dissipar. EXAUSTA, EMMA CAMINHOU PELO CORREDOR até seu apartamento, segurando os sapatos vermelhos entre os dedos da mão esquerda, e com a direita um saco de compras da mercearia. Prender Ryan Marlow não fora tão satisfatório como esperava, e agora ela estava com uma tremenda dor de cabeça.
Sua mão também doía. Ele tentara fugir, é claro. Todos os homens sempre tentam fugir. Conseguira chegar até o carro e o encontrara amassado. Não foi nada difícil para ela resolver. Nesse momento ela socou a cabeça dele no carro. Essas coisas, a caçada, as perseguições, tudo ficara um pouco previsível. No entanto, se não fosse isso, o que mais ela saberia fazer? E para onde mais ela iria? Alguma coisa estava fora do lugar, mas ela não se permitiu pensar muito sobre isso. Nada que um pouco de sono e algumas doses de uísque não pudessem curar. Já no apartamento, depositou as compras no balcão da cozinha, ligou a música e desembrulhou o bolo de caneca de aniversário que tinha comprado para si mesma. Pegou o pacote de velas no saco de compras, retirou uma do pacote, prendeu-a no bolo e acendeu-a. Não era uma festa daquelas, não... Mas, pelo menos, era alguma coisa... Ficou olhando para a chama da vela por um momento. Mais um ano, mais um ano sozinha. Emma fechou, então, os olhos e pensou: "Por favor, não me deixe ficar sozinha no meu aniversário.”. Esse pedido parecia deprimente rodando em sua cabeça, mas era esse o seu verdadeiro desejo, Emma teve de admitir. Não que ela desejasse ficar alimentando a auto piedade. Muitas pessoas tinham um passado bem pior que o dela, e Emma era forte o bastante para aguentar a dor de sua história, que passava em branco. Isso não queria dizer que não ficasse sozinha, nada disso, mas significava que podia lidar com a solidão. Apenas sentia a necessidade de desejar, às vezes, que a solidão fosse embora. Assim que apagou a vela, a campainha tocou. Emma franziu a testa olhando para a porta, e por alguns instantes passaram por sua mente os vários fugitivos que ela tinha caçado nos últimos anos. Tentou lembrar-se de algum que teria sido libertado recentemente da prisão. Provavelmente, imaginou. A qualquer momento ela iria até a porta da frente e uma marreta despencaria em sua cabeça. Deu alguns passos e espiou pelo olho-mágico: Mas, que diabos...?! Quando abriu a porta, viu um rapazinho estranho ali olhando para ela. Ele linha o tabelo castanho desgrenhado e trazia uma mochila cheia às costas. E olhava para ela com os olhos arregalados. — Pois não? — disse Emma, hesitante. Olá - disse o garoto. — Você é Emma Swan? — Sou eu — disse Emma. Posso ajudar em alguma coisa? O garoto sorriu e estendeu a mão. — Sou Henry Mills — disse ele. — Sou seu filho. Emma ficou olhando para ele, de olhos arregalados. E não estendeu a sua mão. — Eu não tenho filho — disse ela, atônita. O menino pareceu ignorar o comentário. E em vez de responder, passou por ela, olhando para a cozinha. Ela estava chocada demais para fazer qualquer coisa, para procurar detê-lo.
— Dez anos atrás comentou o menino observando tudo ao redor, voltando-se depois para ela —, você deu um bebê para adoção? Emma não disse nada novamente. Seu rosto ficou sem cor, aliás. Ela notou isso quando se olhou no espelho. — Pois então, eu sou esse bebê. Você vai comer o bolo? E-eu... Sim, poderia ser ele. Emma não achou que ele estivesse mentindo, e podia reconhecer seus olhos nos do garoto. Mas, se ele era o filho que ela, durante tantos anos, havia tentado esquecer e apagar da lembrança, vê-lo ali, pedindo de forma tão inocente um pedaço de bolo, foi algo que a deixou confusa: ficar ou fugir? Sentiu-se tonta, sentiu-se... Não sabia muito bem o que estava sentindo. (Nunca sabia o que de fato sentia.) Emma fechou a porta da entrada e se virou, tentando pensar em alguma coisa para dizer. Sim... Quero dizer, não, pode comer o bolo. Pode comer tudo, se quiser... — respondeu, distraída. Isso pareceu agradar ao menino. Emma colocou o bolo em um prato, tirou a vela e ofereceu a ele um banquinho, enquanto pedia licença e saia da cozinha. No banheiro, olhou seu rosto no espelho com cuidado, equilibrando-se com as mãos apoiadas na beirada da pia. Que diferença da pessoa de dez anos atrás, quando tinha apenas dezoito anos e estava completamente sozinha. Lembrou se, também, de ter se olhado no espelho então nos últimos dias antes do parto, quando se escondera em uma cela empoeirada da prisão, simplesmente esperando, sem nenhuma boa alma para ajudá-la. Solidão. Emma lembrou-se de se sentir assim na ocasião, percebendo que o bebê que ela estava prestes a dar para alguém poderia ter significado o fim dessa solidão, caso ela o tivesse mantido. Mas não foi o que Emma fez. Respirou fundo. — Recomponha-se, Swan — disse em voz alta. Ao som da própria voz, a parte mais razoável, cética e forte de sua mente se mexeu e voltou à vida. A velha Emma. Aquela Emma durona, a agente de fianças que é mais uma caçadora de recompensas. A verdadeira pergunta: Quem era esse garoto, realmente? Certamente não era o seu filho. Ali estava ela, perturbada por aquela situação, e por tudo o que sabia aquele menino devia estar fuçando em suas coisas na outra sala, ou então poderia ser o estopim de um esquema que devia envolver um grande número de homens invadindo o seu apartamento, bem no momento em que ela estava começando a se abrir para ele... Sim, aquilo só podia ser um golpe. Isso mesmo. Alguém devia conhecer o seu passado e saber muito bem como entrar em sua vida. Ela, então, correu de volta para a cozinha, pronta para começar a gritar. O garoto estava sentado à mesa, comendo o bolo. Ele olhou para ela, e seus olhos a desarmaram.
— E aí? - disse ele. — Como estava o banheiro? — Oi — respondeu ela, franzindo a testa novamente. Emma se aproximou dele, apoiou a mão sobre a mesa, e a recolheu. Esse garotinho estava fazendo com que ela não tivesse bem certeza de como devia se comportar. Eu... Então, eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas — disse ela finalmente. Tudo bem — disse o menino. — Manda. Como... Como é que você me encontrou? Sou um cara de muitos talentos respondeu. Ele parecia entediado com a pergunta, e muito mais interessado em estudar a reação dela do que em avaliar qualquer coisa que tivesse a ver com os próprios sentimentos. Mas as coisas não estão saindo do jeito que pensei... —Que coisas? Esta conversa? — Exatamente. — E como achou que fosse acontecer? — Sei lá, como nos programas da Oprah, entendeu? Com choradeira, abraços... — Bem, eu não sou do tipo chorona, garoto. — E, já percebi - disse ele, concordando. Se ela não fosse crescidinha o suficiente, poderia pensar que o menino estava zombando dela. Ou repreendendo-a, pelo menos. — Bem, devemos ir andando — acrescentou ele. Emma sorriu ceticamente, franzindo a sobrancelha. Apreciava a audácia daquele pirralho, quem quer que fosse ele. Desculpe-me, mas não sabia que íamos sair - respondeu ela. — Você estava de saída, eu estava indo para a cama. E ambos estávamos prestes a nunca mais nos ver de novo... Mas nós vamos sair, sim — disse ele, assentindo com a cabeça. - Você tem de voltar para casa comigo. Tem de me dar uma carona, pelo menos. — E onde é essa casa? — Em Storybrooke. Emma olhou para ele. E depois voltou os olhos para o livro, que Henry havia acabado de tirar da sua mochila. "Ah, entendo... Esse moleque", pensou, "está no meio de algum tipo de evento 'psicológico'." — Storybrooke? - disse ela finalmente. - Você está brincando comigo? — Não, por quê? - perguntou ele inocentemente. Esse é o nome do lugar... Tudo bem, moleque, agora escute aqui - disse ela. - Foi tudo muito divertido, mas... em primeiro lugar, eu não tenho filhos. Em segundo lugar, estou chamando a polícia agora mesmo. Não tenho tempo para isso, e você deve ser um fugitivo. Os seus pais sabem onde você está? Vou chamar a polícia. — Emma foi em direção ao telefone, após ter ameaçado duas vezes. — Não, não vai. Emma olhou para o menino, já com o telefone na mão. O que você disse?
Disse que você não vai chamar a polícia - respondeu ele, dando outra mordida no bolo. Porque, se fizer isso, eu direi a eles que você me sequestrou. Emma refletiu sobre o que ele dissera. Todas as suas dúvidas voltaram. Se ele era realmente seu filho, aquele era um bom plano. Os policiais suspeitariam que ela tivesse um motivo para reaver seu filho biológico, e, no mínimo, ela ficaria presa na burocracia por horas, possivelmente dias. Chamar a polícia, de fato, lhe traria muito mais problemas do que vantagens, mesmo que ela estivesse com a razão. Mas, ainda assim, havia algo errado com aquela situação toda. Ele realmente não poderia ser seu filho, não é? Olhe, garoto disse ela. — Gosto de pensar que tenho um superpoder. Uma coisa que sempre posso fazer. Você sabe o que é? Sempre posso dizer quando alguém está mentindo. Sempre. E você, garoto, está mentindo. Ela não tinha certeza se acreditava naquilo, mas deixou-se levar. Emma era boa em desencavar mentiras, mas a questão era que o menino parecia realmente estar dizendo a verdade. O que significava que ela não sabia o que pensar. Henry engoliu o último pedaço do bolo: Eu também sou bom em dizer quando as pessoas estão mentindo disse ele. — Ah, é? Então diga. Ele balançou a cabeça lentamente. Emma pôde ver que a confiança dele estava começando a minguar, o garoto parecia chateado. "E apenas uma criança", pensou a mulher. Então, o coração de Emma começou a amolecer, e ela pensou: "Não, Emma. Ele é seu filho". Eram as pequenas coisas. Suas orelhas eram as mesmas do pai. O formato dos olhos — ela conseguia ver seus próprios olhos lá. só um pouquinho, só um lampejo, como se estivesse se olhando no espelho naquele exato momento. Emma podia até mesmo ouvir alguma coisa em seu tom de voz. Claro que teria sido bom ser capaz de comparar as orelhas, os olhos e a voz do menino com os de seu próprio pai, de sua própria mãe. Mas isso era outra coisa. Ela nunca tinha conhecido seus pais. " Isso aqui não é um golpe", Emma pensou. "Você sabe disso." — Por favor, não chame a polícia — disse Henry. — Tudo bem? Apenas vá para casa comigo. Emma respirou fundo. — Tara Storybrooke disse ela. O que mais ela poderia fazer? Você precisa de uma carona para casa, para Storybrooke? Isso é o que está pedindo. Um pedido simples, não é? — A-hã. Emma suspirou. Não havia como brigar com esse garoto. — Ok, então. Vamos para Storybrooke. Ela não podia acreditar no tamanho do sorriso dele.
BRANCA DE NEVE, com a barriga bastante aumentada tanto pelo novo ser como pela ansiosa expectativa, rapidamente seguiu o carcereiro através do escuro corredor. Ela e o Príncipe Encantado estavam indo conversar com o único homem em todo o reino que poderia responder à sua pergunta. Branca não tinha conseguido recuperar a paz desde as ameaças da Rainha; precisava saber a verdade. O carcereiro, um homem volumoso e dispéptico, não gostou nem um pouco dessa ideia. — Não revelem seus nomes a esse homem, e usem estas capas aqui — disse ele, passando dois pesados mantos encapuzados para o Príncipe. — Sua melhor defesa é o anonimato. O Príncipe pegou as capas, vestiu a sua e entregou a outra para Branca. — Por que eu deixei você me convencer a fazer isso? — perguntou o Príncipe a ela. Branca vestiu seu manto também e manteve o ritmo de suas passadas ao lado dele. — É a única maneira respondeu. Você sabe que sempre tenho razão. — Ele tem razão de ser cauteloso, milady disse o carcereiro com mau agouro. — Ninguém se encheu de mais pesar do que aquele que conversou com Rumpelstiltskin. O Príncipe e Branca de Neve trocaram um olhar: ambos ficaram um pouco preocupados com as palavras do carcereiro. Deixe que eu fale — disse simplesmente o Príncipe. Bem no final do longo e escuro corredor, os três chegaram ate a última cela Nenhuma luz vinha de dentro dela, mas a chama que tremeluzia nas tochas permitiu que enxergassem as grades irregulares. O carcereiro disse: — Rumpelstiltskin! Tenho uma pergunta para fazer a você. — Não, você não! disse uma voz perplexa, saída da escuridão. — Eles é que têm. Branca de Neve e o Príncipe Encantado gostariam de saber se as palavras da Rainha devem ser levadas em consideração. Estou certo? — Como você sabe disso? — perguntou o carcereiro. — Quem esteve aqui falando com você? Ninguém, meu bom homem! — soou a voz de Rumpelstiltskin. Branca não conseguia vê-lo, mas parecia que ele tinha se posto rapidamente de pé. Ela sabia que ele poderia agir como um felino quando quisesse. O Príncipe colocou a mão sobre a sua espada. Vamos deixar esse jogo de lado — disse Branca, puxando o capuz para trás e dando um passo á frente. — Diga-nos o que você sabe. — Farei isso — respondeu Rumpelstiltskin, caminhando para perto das barras da cela. — Se você me der algo em troca, doce Branca de Neve. O Príncipe Encantado também deu um passo adiante, colocando-se entre Branca
e as grades. — Você não vai sair daqui. Não há nenhuma possibilidade de que isso venha a acontecer. Portanto, nem sequer tente. —Não, não agora disse Rumpelstiltskin. Claro que não. Vou sair mais tarde. Quando todos formos embora. O que preciso agora é de garantias. Para mais tarde. Então? — O que quer dizer? Perguntou o Príncipe Encantado. O que... — Basta nos dizer o que você quer — disse Branca. — Não temos tempo para esse tipo de coisa agora. — O nome da criança que vai nascer deve ser... muito lindo... — Absolutamente! - gritou o Príncipe. — Combinado— disse Branca de Neve, ignorando-o. Agora nos diga... O que a Rainha tem planejado para nós? Como é que ela vai roubar a nossa felicidade? Sei que ela tem um plano concreto, só não sei o que poderá ser! Rumpelstiltskin estava junto às grades da cela agora, e eles podiam enxergar seu rosto marcado. O nariz dele estava entortado e cheio de verrugas, seus dentes, amarelados e afiados. Um lance de magia fizera isso com ele, mas Branca não sabia exatamente como tinha acontecido, e, naquele momento, era o que menos lhe importava. Ele sorriu, balançando a língua grotesca fora da boca. A Rainha Má criou uma poderosa maldição — disse rapidamente. —Ou pelo menos pôs as mãos em uma dessas maldições. E ela está vindo. Será uma maldição que não afetará apenas estas terras. Vai tocar todas as terras... Logo vocês todos estarão em uma prisão. Assim como eu. Só que pior. Sua prisão, a prisão de todos nós, será o Tempo... — Ora, vamos lá... — disse o Príncipe. — Isso é loucura. Rumpelstiltskin o ignorou, e sua voz tornou-se grave. O tempo vai parar. Vamos todos ficar presos, e sofrendo, por toda a eternidade. A Rainha governará a todos nós, vai nos escravizar. Ficaremos perdidos, confusos. Sem esperança. Não haverá mais finais felizes. Ele esperou, deixando que as palavras fossem assimiladas. Nenhum de nós pode fazer coisa alguma para impedir que isso aconteça. Branca olhou para ele assustada. Rumpelstiltskin estava sempre cheio de malandragens, mas realmente nunca mentira. Esso a fez acreditar que ele dizia a verdade, que todos eles estavam em grande perigo, assim como a Rainha prometera. — Então, quem pode impedir? — perguntou ela. — A criança — disse Rumpelstiltskin, olhando para a barriga de Branca. A criança será capaz de detê-la. Você tem de levá-la embora por segurança — concluiu. - E para longe daqui. Quando a criança atingir a idade de vinte e oito anos, começará. Ela irá nos salvar... A todos nós. -- disse essa última frase de forma muito simples, como se fosse apenas uma questão de curso natural. Ela? — disse o Príncipe, voltando-se para Branca. O carcereiro estava
gesticulando para que eles fossem embora. — Mas é um menino! — E mesmo? - perguntou Rumpelstiltskin. - Eu não acho senhor Príncipe! — e cantarolou as últimas palavras. Temos de nos preparar disse Branca ao Príncipe. Venha, meu amor. A profecia dele está correta, tenho certeza! Esperem! — gritou Rumpelstiltskin. — O nome da criança! Preciso saber! Tínhamos um acordo! Branca virou-se, olhando para o monstro que era o homem. Emma — disse ela. — O nome dela será Emma. AS ESTRADAS ESTAVAM TRANQÜILAS e vazias. Logo eles saíram dos limites de Boston. Emma olhou de relance para o menino, que tinha o livro aberto no colo. Com base na ilustração, parecia que ele estava lendo sobre Branca de Neve, ou alguém que se parecesse com a Branca de Neve, e que também gostava de ficar brincando com passarinhos, ao menos... Mas essa era uma parte da história que Emma não conhecia. A heroína estava em uma espécie de masmorra, conversando com um duende. Emma olhou para a estrada e tentou se lembrar da história. Branca de Neve não tinha conhecido um grupo de anões? E eles não ficavam cantando e dançando? As coisas estavam todas desordenadas em sua cabeça. Um de seus pais adotivos tinha mostrado a ela os desenhos da Disney, e ela os adorara. Mas quando criança tudo aquilo parecera uma longa sequência de um mesmo conto de fadas, e Emma tinha a tendência de confundir todos eles. — Você gosta desse livro, hein? — perguntou ela. Henry não respondeu, e ela olhou para ele, esperando vê-lo absorto demais em sua história. Mas ele estava olhando para a frente, de olhos bem abertos, sorrindo. — Chegamos — disse ele. Emma seguiu o olhar do menino e viu a placa: bem vindo a storybrooke. — Ótimo! — respondeu ela — Bem-vindo a Storybrooke. Aqui estamos. Fantástico. E qual é o endereço? — E uma cidade muito pequena — disse ele. — Muito simples. — Aposto que é simples — Emma murmurou, desacelerando o carro ao passar pelas primeiras casas e lojas da cidade. Era como qualquer cidade, em qualquer parte dos Estados Unidos, realmente... Lojas e casas, algumas delas novas e brilhantes, outras velhas e empoeiradas. Provavelmente complicada e não tão bonita quando você olhasse as coisas sob a superfície. Ela nunca tinha ouvido falar de Storybrooke, mas conhecia essa cidade como conhecia qualquer outra cidade. Certo — disse ela. — E onde você mora? Não vou dizer. Emma revirou os olhos e estacionou o carro. Crianças... Hilário. A intensidade dos sentimentos que ela tivera em seu apartamento havia desaparecido. Agora estava apenas cansada e confusa. E não mais a fim de descobrir o que estava acontecendo. Tudo o que precisava fazer agora era apenas levá-lo para casa e não
ser presa. "Faça com que esse seja o seu objetivo, Swan", ela pensou. "Mantenha isso em mente e faça com que as coisas sejam simples." Havia poucos carros estacionados ali perto, e já era tarde o suficiente para que todas as lojas estivessem fechadas. O lugar parecia deserto. Ela olhou para um relógio construído no que parecia ser uma biblioteca. Olhe, já são oito e quinze — disse Emma. Vamos parar com essas brincadeiras... — Esse relógio sempre marca oito e quinze — disse Henry. — O quê? — A Rainha Má fez isso respondeu o garoto. Parou o tempo. E enviou todo mundo de lá para cá. O povo da Floresta Encantada. Então eles ficaram presos aqui na cidade. E presos no tempo também. E nem mesmo sabem disso... — Por que as pessoas simplesmente não vão embora e voltam para um lugar onde o tempo funcione? — perguntou Emma. E que acontecem coisas ruins sempre que alguém tenta fugir. Ah, é? Emma apertou os olhos. Que tipo de coisas ruins? Antes que Henry pudesse responder, Emma foi surpreendida por uma leve batida na janela do lado do passageiro. Um homem magro, de aparência inofensiva, estava de pé ao lado do carro. Ajeitava os óculos, tentando focar no passageiro sentado no banco. Ele estava segurando um guarda-chuva, embora não estivesse chovendo. — E você, Henry? Perguntou ele. Henry virou-se e olhou para o homem. E abaixou o vidro da janela. — Oi, Archie — disse Henry. Archie ajustou os óculos de novo, olhando para Emma. Ela sorriu. E quem é essa? — perguntou o homem. "Amigável, mas desconfiado" pensou Emma. "Eu ficaria assim também." — Essa é minha mãe — respondeu o menino. — Eu... Eu não... — começou ela. Minha verdadeira mãe — acrescentou Henry. Archie olhou para Henry por um longo momento, depois para Emma. Entendo... — Eu só estou tentando levá-lo para casa — disse Emma, alegando inocência com um olhar. — Você pode me dar o endereço certo? Ele apareceu na minha casa em Boston. E não sei onde mora... E ele não quer me contar. Perfeitamente... - disse Archie, aparentemente mais relaxado. — Ele vive na casa da prefeita, é claro, Regina Mills. Naquela mansão lá na Rua Mifflin. Emma, de sobrancelhas levantadas, olhou para Henry, que encolheu os ombros inocentemente. — A prefeita? — disse ela. - Sério? Você é o príncipe desta cidade? — Por que motivo perdeu a nossa sessão de hoje, Henry? — Eu estava fora da cidade— respondeu Henry. — De férias. Archie lançou lhe um amigável olhar de compreensão. — Tudo bem... O que foi que eu disse sobre a mentira, Henry?
— Que só machuca a pessoa que conta a mentira. No final. Archie assentiu. — Vou levar o garoto para casa, doutor — disse Emma. — Obrigada. Ela se afastou com o carro, observando aquele estranho homem pelo espelho retrovisor. — Então, esse é o seu psiquiatra, hein? Eram sempre pessoas esquisitas... Mais ou menos — disse Henry. — Mas ele é também o Grilo Falante. Como...? Todo mundo aqui — insistiu Henry. — Já disse a você. Todo mundo aqui é um personagem de conto de fadas. Você não estava ouvindo? Do meu livro. Ele apontou. — Todas as histórias deste livro são reais. Emma olhou novamente para o homem, que ficava cada vez menor e menor no espelho retrovisor. Ela inclinou a cabeça. Ele andava de um jeito engraçado. Claro, garoto — disse ela. Como quiser... Eles seguiram em silêncio enquanto Emma procurava a casa da prefeita. Ela havia se distraído com a tarefa de trazer Henry de volta para casa e não se permitiria pensar muito sobre o que o menino lhe havia contado. Tudo o que lembrava era de um bebe fofinho, que fora autorizada a manter no colo em uma cama dura da prisão por apenas alguns instantes. Era uma coisinha fofa, macia, que chorava e olhava para ela com os olhos enevoados. Depois disso, a desolação emocional. Meses sofrendo por isso. Anos. Era engraçado como uma coisinha tão pequena pudesse um dia crescer e se transformar em um ser que falava que andava. Era quase a mais louca fantasia que existia. Nada em sua vida a havia magoado e machucado mais do que o momento em que a enfermeira tirara o bebê de suas mãos. Ela estava tão exausta, que nem conseguiu chorar. Lembrava-se do rosto delicado do bebê, e evitou dar outra olhada de relance para Henry e compará-lo com suas lembranças. Viu a Rua Mifflin e virou ali; era simplesmente uma rua sem saída, e logo ficou óbvio qual era a mansão da prefeita. Lar doce lar? — disse Emma, enquanto parava o carro. — Tenho certeza de que seus pais vão ficar felizes em ter você de volta. — É só a minha mãe — disse Henry, olhando para as mãos. — E ela é a encarnação do mal. — Eu sei, a gente se sente assim às vezes... Ele ergueu os olhos. — Não disse ele, suavemente. Você não entende. Ela é realmente o mal, de verdade... O Maligno. Satã. Todos esses caras, entendeu? Ela não queria que sua voz fraquejasse, mas não sabia o que dizer ao garoto. Seria seu trabalho confortá-lo? Como é que uma pessoa poderia... — Olhe, não acho que... —começou Emma. Henry! Henry! Emma olhou. Uma mulher de cabelos escuros, bonita e bem-vestida, corria da casa em direção ao carro. Seus olhos estavam fixos em Henry. — Você se machucou? Por onde andou? — Estou bem, estou bem... — resmungou o menino.
— Encontrei minha mãe. A mulher congelou quando ouviu isso, e olhou para Emma pela primeira vez. Emma sentiu frieza em seu coração. — Você é... a mãe biológica dele? — perguntou ela finalmente. Emma balançou a cabeça, tentando parecer inocente e surpresa: Aparentemente — respondeu. — Prazer em conhece-la. Emma não soube interpretar o olhar que a mulher lhe lançou em seguida Por fim ela lhe disse — Bem... entendo. Não gostaria de entrar e tomar uma taça de sidra de maçã? Henry olhou para ela, esperançoso. Emma disse: — Você tem alguma coisa mais forte? Após o encontro com rumpelstiltskin, o conhecimento da maldição ficou pairando sobre o castelo como uma névoa fria e sombria. Branca de Neve exigiu ação. Depois de muitas reuniões entre os líderes da Terra dos Contos de Fada, decidiram-se as medidas que deveriam ser tomadas para proteger o reino. A Fada Azul expôs tudo claramente: se era mesmo verdade que a Rainha Má tinha planejado desencadear uma maldição que prenderia a todos, e que a filha de Branca de Neve seria a única capaz de libertá-los, então a menina teria de ser protegida. O plano da Fada Azul era simples. Usando a última árvore disponível na Floresta Encantada, Gepeto construiria um guarda-roupa que podia proteger Branca de Neve da maldição e transportar as duas, ela e a filha, para um lugar seguro. E nesse lugar. Branca de Neve cuidaria da menina enquanto crescesse, até seu vigésimo oitavo aniversário. Quando ela chegasse a essa idade, Emma cumpriria o papel ao qual estava predestinada e salvaria a todos. Enquanto Gepeto preparava o guarda-roupa, a gravidez de Branca de Neve chegava cada vez mais próxima do fim. Branca de Neve e o Príncipe Encantado, sabendo que muito em breve estariam separados, passaram a fazer o melhor que podiam para se preparar para isso. Seria apenas temporário, disseram a si mesmos. A pequena Emma iria crescer e salvar todos eles. De algum modo. Se fosse assim tão simples... Certa noite, uma nuvem de neblina verde apareceu no horizonte. Parecia se fortalecer e crescer a cada minuto, subindo em cascatas por trás das árvores como se fossem as explosões de um vulcão. Era isso. A maldição. Estava acontecendo. Agora. Zangado começou a gritar. — Chegou a hora — disse o Príncipe a Branca. — Prepare-se. Mas Branca de Neve, na cama, não conseguia falar. Ela havia sentido uma contração no início do dia e não dissera nada, esperando que desaparecesse. Naquele momento, no entanto, outra, mais intensa, tomou conta do seu corpo, e ela fechou os olhos, respirando profundamente. — O bebê vai nascer. — disse ela. Abriu os olhos. E não conseguiu mais segurar as lágrimas. O Príncipe, surpreso,
olhou para ela do outro lado do quarto. — O bebê está nascendo agora, meu amor. Emma sentou-se no gabinete da prefeita, segurando um copo de sidra, e se curvou para olhar uma pintura que retratava uma macieira. Mantenho viva essa mesma macieira há muito tempo — disse Regina, ao observar Emma estudando a pintura. — Ela está bem ali, na Rua Principal disse ela sentada na frente de Emma, com as pernas imaculadas cruzadas, tendo recuperado a compostura. Sinto que há certo valor no apoio consistente, de longo prazo, não acha? Emma conseguia pensar em uma porção de coisas para dizer em resposta a essa pergunta. Em vez disso, apenas balançou a cabeça, virou-se para Regina e disse: —Sua árvore é muito bonita. —Sinto muito que ele tenha arrastado você para fora de sua vida — disse Regina. — Realmente não sei o que deu nele. — Parece que ele está passando por um momento difícil disse Emma, tomando um gole de sidra. — Mas o que sei eu? Essa é apenas a minha impressão. — Desde que assumi a prefeitura, equilibrar essas duas coisas, ser mãe e o meu trabalho, tem sido muito difícil. Você deve entender, afinal, presumo que tenha um trabalho. — Eu tenho um trabalho— confirmou Emma, ignorando a condescendência da prefeita. —Bem, quando se é mãe solteira, e como ter dois empregos de tempo integral. E então, de fato, exijo ter as coisas em ordem. Eu sou rigorosa com ele. Mas é para seu próprio bem. Quero que ele seja bem-sucedido; não quero que ele se sinta como se tudo viesse de mão beijada. Só que não acredito que isso me qualifique como má, exatamente. Estou louca? Ele só está dizendo essas coisas por causa do negócio de conto de fadas. — Que negócio de conto de fadas? —Você sabe aquele livro. Ele acha que todo mundo é um desenho, um personagem que saiu do livro, ou algo assim. Quero dizer, o garoto pensa que seu psiquiatra é o Grilo Falante. Então... Emma, que estava olhando para seu copo, ergueu os olhos para Regina e ficou surpresa ao percebê-la um pouco alarmada. — Sinto muito — disse Regina. Realmente não tenho ideia do que você está falando. "Meu Deus, ela não sabe do livro", Emma pensou. Estava atravessando muitos limites ali. A melhor coisa a fazer seria ir embora antes que encontrasse uma maneira de explodir toda a cidade. Bem, sabe de uma coisa? — disse Emma. — Melhor eu voltar para Boston. Estou atrapalhando você com suas coisas. Fico contente por ele estar seguro de novo.
Regina se pôs de pé assim que Emma se levantou. — Eu também— respondeu ela, segurando sua mão, que tinha começado a tremer. — E aprecio muito que você fez, de verdade. Estou feliz que ele esteja de volta em casa e em segurança. Obrigada. Emma não achou que fosse ter coragem de dizer adeus a Henry, e por isso foi direto para o carro. Abriu a porta e quase entrou sem olhar para trás, para as janelas dos quartos. Ela o viu de relance, muito rapidamente, antes que a luz da janela se apagasse. Emma o estava abandonando novamente. "Você vai superar isso", disse a si mesma enquanto dirigia até o final da cidade para pegar a estrada de volta a Boston. Aqueles sentimentos passariam. E, além disso, agora ela sabia onde o menino estava, sabia que ele ficaria bem. Isso era uma boa notícia. Certamente a prefeita iria deixá-la passar por ali de vez em quando para dar um alô... "Puxa", pensou Emma, "devia ter pedido informações sobre os contatos da prefeita. Devia ter." O olho de Emma percebeu algo pousado no banco do passageiro. Ela apertou os olhos e virou-se para acender a luz interna do carro. Era o livro de Henry. "Que danadinho sorrateiro", pensou. Não pôde evitar e deixou escapar um sorriso. Agora, ao menos ela tinha uma desculpa para voltar... Ainda sorrindo, e distraída pelo livro, quase não percebeu o lobo parado bem no meio da estrada. Emma engasgou, pisou no freio e girou o volante totalmente para o lado. A última coisa que viu foi o animal, impassível, casualmente observar o carro dela, fora de controle, derrapar para fora da estrada. Ele nem sequer piscou seus brilhantes olhos vermelhos. DENTRO DE SEUS APOSENTOS, enquanto as nuvens daquela névoa fantasmagórica se espalhavam por toda parte, infiltrando-se através da floresta e cercando o castelo, Branca de Neve gritava durante o trabalho de parto enquanto o médico da corte a atendia. O Príncipe correu para ficar ao lado dela e pegou a mão de Branca, prendendo-a entre as dele. Ele havia tentado convencer Branca de Neve a entrar no guarda- roupa durante os estágios iniciais, mas ela havia se recusado, e por sua vez o havia convencido de que agora era tarde demais, o plano não poderia mais funcionar. — Ela está nascendo! — gritou o médico. — Mais um empurrão! E, então, o Príncipe ouviu o choro e viu o bebê nos braços do médico. Ele se virou para Branca, que parecia exausta, mas sorriu para ele mesmo assim. — Agora... disse ela, em voz muito baixa — leve-a... O Príncipe franziu a testa. — O que você quer dizer? Leva-la... Para onde? — Pegue a nenê - insistiu Branca de Neve. Pegue a nenê e a ponha no guarda- roupa. E o único jeito... — Não! — gritou ele. Nunca! Temos de ficar todos juntos e...
— É o único jeito — disse ela, e empurrou Emma para os braços do Príncipe. Ele a pegou. E olhou para o belo e suave rostinho de sua bebezinha. Depois, virou-se para Branca. Ela tinha o péssimo hábito de estar sempre certa. — Cuide dela — disse o Príncipe ao médico, pondo-se de pé. — Não vai demorar mais de um minuto. E correu para fora do quarto, com a menina aconchegada nos braços. EMMA VOLTOU A Si e passou um instante olhando para uma parede de concreto, perguntando-se por que não estava em seu apartamento, por que estava vestida, e, ainda, por que havia claridade do lado de fora, tentando imaginar o que tinha acontecido. Pensou no sonho, em seu filho, no sonho da cidade... Virou a cabeça e viu as grades. Diabos! Estava na cadeia. Em Storybrooke, Maine. Um homem magro, evidentemente o xerife, estava de pé ao lado de sua mesa, olhando alguns papeis. Quando viu que Emma estava despertando, acenou com a cabeça para ela. — Bom dia disse ele. — Sou o xerife Graham. E você está presa. — Mas... por que estou na cadeia? — foi tudo o que ela disse. Parece que bebeu um pouco demais na noite passada — e com uma das mãos fez o movimento de quem entorna uma garrafa. — Bati o carro por causa de um lobo, foi um acidente. — Lobo? — disse Graham, e parecia genuinamente divertido. — Essa agora... Já ouvi algumas desculpas boas, mas esta leva o troféu... Antes que ele pudesse continuar a censurá-la, Regina Mills invadiu a delegacia com os olhos arregalados. Foi diretamente ate Graham. Emma, grogue, sentou-se no catre. — Henry fugiu de novo — disse Regina. Temos de... Regina viu Emma na cela. O que ela esta fazendo aqui? Antes de esperar por uma resposta. Regina caminhou ate a cela. — Já entendi. Isso não é uma coincidência, não é? Você sabe onde ele esta! — exigiu a prefeita. — Minha senhora, eu não o vi desde que saí da sua casa — defendeu-se Emma. Ela agora se mostrava muito menos interessada em civilidade do que na noite anterior. Olhou para Graham. — Eu tenho um álibi. Dois, na verdade. Esse sujeito e um lobo. Graham concordou. — Bem, isso eu posso garantir, pelo menos. Ela ficou aqui a noite toda. —Henry não estava em seu quarto esta manhã disse Regina, e Emma podia ouvir uma real preocupação em sua voz. — E os amigos dele? — disse Emma. — Já tentou falar com eles' — Ele não tem nenhum amigo. Emma franziu o cenho, pois não tinha gostado nada de ouvir aquela pequena
informação. Henry parecia-se demais com ela mesma na infância. Toda criança tem amigos. E o computador dele? Já Verificou o e-mail? — E como você sabe disso tudo? — Eu encontro as pessoas, senhora, esse é o meu trabalho — disse Emma. Não precisa ficar toda preocupada. Deixe-me sair daqui e vou encontrar Henry. Sem cobrar nada. Regina e Graham trocaram um olhar. — E depois vou para casa— acrescentou. Emma olhou para Graham durante longos minutos, tentando adivinhar se ele havia compreendido o trato. — Bem, os computadores não são exatamente a minha especialidade -disse Graham. — E, além disso, essa moça parece saber do que está falando. Frustrada, Regina girou nos calcanhares e se dirigiu para a porta. — Tudo bem. Traga a mulher. Eu só quero encontrar meu filho, não me importa como. Eles foram para a casa de Regina, Emma na parte de trás do carro, olhando para fora e observando a cidade, nenhum deles falando uma palavra sequer. Uma vez lá dentro, Regina os levou até o quarto de Henry. Emma foi diretamente para o computador. — O garoto é inteligente —disse ela, depois de um momento. Ele limpou a caixa de entrada. — Emma procurou em seu chaveiro e pegou um pequeno pen drive. Sorte de vocês que sou inteligente também. Um dispositivo que gosto de usar. Ela introduziu o pen dríve na porta USB do computador de Henry e ficou observando enquanto os arquivos espelhados iam detalhando suas atividades recentes e eram transferidos para o dispositivo. Henry tem cartão de crédito? — perguntou Emma. — Ele é muito novo— disse Regina, cruzando os braços, aparentemente irritada com o fato de Emma estar fazendo progressos. — Claro que não. — Bem, ele usou um disse Emma, lendo o que aparecia na tela. — Foi assim que conseguiu a passagem de ônibus. Quem é... Mary Margaret Blanchard? —perguntou. Regina, com os braços ainda cruzados, olhou furiosa para a tela. A professora dele — respondeu. — Eu vou matá-la. — Ah, tenho certeza de que ele roubou o cartão dela disse Emma, e então desligou o computador. —Venha, vamos para a escola, então. Talvez ela saiba de alguma coisa. MAIS UMA VEZ RODARAM EM SILÊNCIO, só que desta vez Emma não via a hora de voltar para casa, para sua vida normal. Olhou para a parte de trás da cabeça de Regina, para seu cabelo perfeitamente esculpido e preso no lugar. Você não pode de repente se imiscuir assim na vida de alguém. Talvez aquela mulher fosse uma
cadela, claro, mas ela havia criado Henry. Emma lhe devia um mínimo de respeito. Ela lhe devia espaço. Havia estado afastada. Encontrar o menino, cair fora dali... Era isso que Emma faria. Ela quase disse algo relativo à sua decisão quando Graham anunciou: — Aqui estamos nós, senhoras. Estavam na escola. Mary Margaret Blanchard se parecia, de algum modo, exatamente com o que Emma esperava devido a seu nome: pequena e bonita, com o cabelo escuro cortado rente ao crânio, ao mesmo tempo recatada e, a julgar pelo brilho nos olhos, potencialmente um pouco mal-humorada. Eles chegaram assim que os alunos dela estavam saindo da classe e, quando Regina lhe perguntou sobre o seu cartão de credito, ela fez uma pausa por um momento, pensando. Emma podia ver que ela estava se lembrando do momento exato em que Henry a havia enganado e furtado o cartão, mesmo antes de ela ir verificar na bolsa. Mary assentiu com a cabeça, vasculhando os compartimentos da sua carteira. — Que menino esperto! —murmurou a professora. Eu nunca deveria ter dado o livro a ele. — Que livro é esse de quem todo mundo fala? —perguntou Regina. — É um livro de histórias, com o qual pensei que poderia ajudar Henry— disse Mary. — Ele é um menino criativo. E especial. Nos duas sabemos disso. Precisa de estímulos. Regina parecia ter ouvido o suficiente, ou ter detectado um insulto naquilo que a Srta. Blanchard tinha dito. Bufou e balançou a cabeça, virando-se para Graham. — Vamos embora, achar Henry. Essa conversa aqui não leva a nada. Virou-se para Mary Margaret. — O que ele precisa Srta. Blanchard, e de realidade. Fatos. Verdade. Não precisa de histórias. Mary Margaret não disse nada, apenas levantou as sobrancelhas. Regina saiu da sala, seguida por Graham. Mary Margaret sorriu gentilmente para Emma. —Bem-vinda a Storybrooke disse ela, e desta vez aquilo soou mais como uma piada. Emma sorriu. Sim, estava certa: ela ia gostar dessa mulher. — Receio que tudo isso, em parte, seja culpa minha — disse Mary Margaret, atravessando a sala e começando a organizar sua mesa. Ele tem estado tão sozinho ultimamente. Apenas pensei que ele precisasse ler historias — disse a professora, refletindo sobre isso por um momento, depois olhou para Emma. —Para que acha que servem as histórias? —Para passar o tempo, talvez? —sugeriu Emma. E ficou pensando que era uma pergunta estranha. — Já eu penso que sejam uma maneira de entender nosso próprio mundo retrucou Mary Margaret. — De uma forma diferente.
— A professora balançou a cabeça. — Regina às vezes é muito rígida com Henry, mas os problemas dele são bem mais profundos que isso. Ele é como a maioria das crianças adotadas: zangado, confuso. Fica se perguntando o tempo todo como alguém poderia ter pensado em... Parou de falar, percebendo com quem estava conversando, dizendo todas essas coisas. Emma estava se sentindo arrasada e ao mesmo tempo feliz que Mary Margaret não tivesse falado tudo aquilo em voz alta. Funcionava com uma brecha em sua armadura, ficar falando sobre os pais. — Está tudo bem — disse Emma rapidamente. — É historia antiga. —Não quero julgar ninguém — disse Mary Margaret. — Peço desculpas. Acho que dei aquele livro a Henry apenas para lhe oferecer o que ninguém aqui parece ter. Um novo sentimento. O sentimento de esperança. Ela parecia triste, forte e triste ao mesmo tempo. Emma percebeu que Mary Margaret falava sobre si mesma. — Você sabe onde ele está não é? — perguntou Emma. Mary Margaret inclinou a cabeça e suspirou. Bem — disse ela. — Não sei dizer com certeza. Mas você pode tentar verificar em seu castelo. FOI O QUE ELA FEZ. O "castelo" de Henry era pouco mais que um depósito de entulho. Foi o que pensou Emma, de qualquer modo, enquanto se encaminhava para o parquinho na periferia da cidade. Ficava ao lado do oceano e com vista para o quebra-mar. Do carro, Emma conseguiu ver Henry sentado no segundo piso de uma estrutura de madeira cambaleante, com uma única escada em espiral. Ele estava com as pernas cruzadas, olhando para baixo. Antes de descer, ela pegou o livro ao seu lado. — Você não pode continuar fugindo, garoto disse-lhe Emma enquanto abria caminho com cuidado por aquela frágil estrutura. As pessoas vão ficar preocupadas. Não vão, não — respondeu ele. — Elas não se importam. Eu trouxe seu livro — disse ela. — Você o esqueceu em meu carro. Henry pegou o livro e disse: — Deve ser o início da batalha final. Toda essa grande coisa. —Em algum momento você tem de crescer e deixar para trás essas coisas, Henry tentou Emma. — As historias são ótimas, mas no fim você vai ter de olhar para o mundo real. Ela não estava gostando de soar como Regina, mas era verdade, não era bom acreditar em coisas que não fossem verdadeiras. Isso deixava a pessoa muito vulnerável. Talvez essa fosse praticamente à única lição de vida que tinha a oferecer, e acreditava nela. — Você não tem de se sentir mal. — Olhe, garoto, isso não é... — Mas tudo bem, eu sei por que você me largou. Emma sentiu um aperto na garganta. Ele estava olhando para ela agora, com um doce sorriso no rosto.
"Deus", Emma pensou. "Esse garoto sabe como me pegar." — Você quis me dar a melhor chance que eu poderia ter — continuou Henry. — Sei que fez isso por mim. Emma não conseguiu segurar as lágrimas que brotavam em seus olhos. Queria pegá-lo e abraçá-lo, aperta-lo contra o peito. Sim, uma vez abrira mão de seu filho, e agora ali estava ela, fazendo tudo de novo... E, de alguma forma, não doía menos dessa vez. Ela só conseguiu dizer: Como... Como você sabe disso, Henry? — Porque foi exatamente por isso que a Branca de Neve abriu mão de você — respondeu ele, orgulhoso de si mesmo por toda a sua lógica. Emma olhou para o livro no colo dele. As histórias servem para nos ajudar a compreender nosso próprio mundo. Mary Margaret tinha razão sobre esse ponto. Temos de voltar para casa, Henry— disse ela. Não estou nesse livro, e não existe nenhuma batalha final. Mas eu sou real. E quero você na minha vida. De alguma maneira. — Não me faça voltar para lá. — Para onde? — perguntou Emma. Para a sua casa? Onde as pessoas se preocupam com você? Eu nunca tive isso. Eles me encontraram no acostamento de uma estrada. Foi lá que os meus pais me deixaram. Na sua idade, eu ainda estava no programa de adoção... O mais próximo que cheguei de ter o que você tem foram três meses aqui, três meses ali... E então me mandavam de volta para o orfanato. Você tem algo estável, algo bom. Está seguro, Henry. Você é querido. Tudo bem, mas eles não deixaram você no acostamento da estrada insistiu Henry. — Você veio no guarda-roupa, que foi parar lá. Emma não tinha nenhuma ideia de que guarda roupa era esse de que ele estava falando, mas podia ver que o garoto não iria desistir da sua fantasia. Ainda não. Talvez em breve, talvez em poucos anos. Talvez quando descobrisse as meninas. Mas ela estava cansada de tentar convencê-lo a encarar a realidade. — Vamos lá, garoto — disse ela, estendendo a mão. —Vamos levá-lo para casa. — FIQUE COMIGO. Branca de Neve o tinha encontrado caído no chão, sangrando, quase inconsciente. Parecia completamente exaurido e estava imóvel agora, olhando para o teto, com a respiração pouco profunda, os olhos vidrados. Branca de Neve segurava a mão do seu amado, chorando. Ela agora estava fraca demais para se mover, porque havia usado toda a energia que lhe restara para chegar até ele. Os soldados da Rainha tinham invadido o castelo à procura do guarda-roupa, mas o Príncipe tinha conseguido. A bebê Emma estava a salvo. O guarda-roupa tinha atravessado para o outro lado. Ela o beijou na face. — Fique comigo, meu amor— sussurrou. — Ah, como o amor é lindo! Branca de Neve estremeceu ao som daquela voz. Ela a ouvira por toda a sua vida, e ela foi ficando cada vez mais gélida ao longo dos anos. Ouvira a esperança
e a felicidade escoarem para longe dela, dia após dia. Ouvira a mesma voz em seu casamento. Branca se virou para a Rainha, que olhava com desdém para um de seus cavaleiros. — A criança — disse. — Dê a criança para mim. — Sumiu — disse o cavaleiro rudemente. — Desapareceu. Desapareceu para onde? — exigiu saber a Rainha. Ela está a salvo — disse Branca. E isso significa que você vai perder, afinal. Você sempre vai perder. E por causa do que você é. O bem vai ganhar sempre. — Poupe-me do seu discurso disse a Rainha. O bem nem sempre vence. Na verdade, o bem quase sempre perde minha linda jovem. Você vem recebendo uma lavagem cerebral neste mundo ridículo sabia? Não, é claro que não. Vou lhe sugerir uma coisa, tente viver uma semana em um reino diferente. Tente ter como monstro como pai. Isso vai ensiná-la a crescer rápido. Ela estava olhando para a porta. Aquela névoa verde que Branca de Neve tinha visto antes chegava finalmente ao castelo, subia pelas paredes e ao redor deles, como se a sala se inundasse de puro ódio. A nevoa, de alguma forma, era a própria maldição. A Rainha sorriu e abriu os braços. Branca de Neve, com os olhos arregalados, agarrou-se ao Príncipe quando o castelo começou a tremer. Ela se sentiu tonta, mas depois percebeu que o quarto em si é que estava girando... estava rachando. Objetos estranhos se mostravam pelas rachaduras, que deixavam entrever o céu, um vento selvagem uivava pelo quarto. Branca de Neve ouviu o que pensou ser ela mesma gritando. — Para onde... Para onde estamos indo? Para aquele outro mundo, minha querida riu a Rainha, com os olhos insanos, os braços agora esticados acima da cabeça. Para um lugar em que o único final feliz será o meu! PELA SEGUNDA VEZ em vinte e quatro horas, Emma observava Regina descer correndo os degraus da porta de sua casa, aliviada por ver o filho. Juntou-se a ele na porta do carro e o abraçou demoradamente. Henry aceitou o gesto, mas não a abraçou. Emma pensou de novo que, por mais distorcida que essa Regina fosse, na mentalidade e no comportamento, de fato se importava com Henry. Depois de um momento, ele se livrou do abraço da mãe e correu para dentro da casa. Regina ficou observando o garoto correr, e Emma viu que a porta batida pareceu causar um instante de dor física na prefeita. Obrigada disse ela, voltando- se para Emma. O prazer foi meu. — Ele parece ter realmente encantado você. — Quer saber de uma coisa louca? — disse Emma. — Ontem foi meu aniversário e, quando apaguei a vela, meu desejo foi que eu não tivesse de passar mais um aniversário sozinha. E bem quando eu assoprava a vela, Henry apareceu. — Ela realmente não tinha
considerado essa coincidência até então. Regina a olhou friamente. — Espero que não haja nenhum mal entendido aqui. — O que você quer dizer? — Isso não é um convite para voltar a fazer parte da vida dele. Você fez a sua escolha. Dez anos atrás. Já é suficientemente duro ser mãe solteira. E fica ainda mais difícil competir com uma estranha que fica enchendo a cabeça dele com histórias divertidas e sei lá mais o que se passa em sua cabeça. —Mas eu não... — E, na última década, enquanto você estava fazendo só Deus sabe o quê, eu estive aqui, trocando suas fraldas, cuidando de cada doença, fazendo o trabalho difícil. Você pode ter dado Henry à luz, mas ele é meu filho! Emma não poderia competir com isso, e nem sequer tentar. —Eu não estava... — Não, você não vai falar —disse Regina, e sua voz tornou-se ainda mais irritada. Ela deu um passo à frente. — Você não vai fazer nada. Lembra-se do que é uma adoção fechada? Lembra-se de que isso foi o que você pediu? Você? Você não tem direito legal sobre Henry. Isso foi uma coisa que você pediu e será cobrada de você. Por isso, sugiro que entre em seu carro e suma desta cidade para sempre. Imediatamente. Se não fizer isso, vou destruí-la, nem que seja a última coisa que eu faça! Emma estava atordoada. Olhou para Regina, que tinha ampliado a sua raiva com aquele discurso. E mais uma vez teve a mesma sensação: quanto mais Regina a queria fora da cidade, mais ela queria ficar. Com o coração palpitando forte, Emma quase se virou para ir embora. Mas pensou em mais uma coisa que queria perguntar. — Você o ama? — questionou ela. Regina pareceu surpresa, depois furiosa. — É claro que o amo— disse, cuspindo as palavras. Então Regina virou-se e voltou para dentro da casa. EMA NÃO TINHA CERTEZA do que acontecera enquanto ela voltou pela Rua Principal. E decidiu não pensar muito sobre o assunto. Na verdade, tinha o mal habito de fazer isso. Ou seja, em vez de refletir, quando viu a placa "Quartos disponíveis" na Pensão da Vovó, uma certeza repentina a inundou: sabia que não poderia abandonar Heury mais uma vez. Estacionou o carro. Dentro da pensão, Emma deparou com uma mulher de cabelos grisalhos no meio de uma discussão acalorada com uma jovem de cabelos negros: —Esta é a minha casa, e estas são as minhas regras. Uma delas é que você não pode ficar fora a noite toda. — Eu deveria ter me mudado para Boston — disse a garota com desdém. Sinto muito que meu ataque cardíaco a tenha impedido de se instalar no litoral — gritou a mulher. No mesmo instante em que fez isso, Emma limpou a
garganta e a mulher girou o corpo. Deu a Emma um sorriso doce. Emma perguntou se tinha um quarto. A garota ficou olhando para ela, impassível. — E claro, é claro! — disse a mulher mais velha, já se aproximando do balcão na recepção. — Temos um belo quarto disponível. Ótimo — disse Emma. — E qual é o seu nome, querida? — perguntou a mulher, com a caneta na mão. — Emma. Emma Swan. — Emma - soou uma voz de homem. — Que lindo nome! Emma se virou e viu um homem de terno e cabelo comprido e sedoso parado bem atrás dela, de pé. Ele segurava uma bengala e a olhava com curiosidade. Em seguida, caminhou até o balcão, olhando para a senhora. — Obrigada - respondeu Emma. — Está tudo em ordem — disse a mulher, e Emma percebeu que ela estava visivelmente intimidada pela presença do homem, quem quer que fosse. Está tudo aqui. — Segurava um envelope na direção dele. — Sim, claro — disse o homem, pegando-o. — Confio totalmente em você. Emma viu um bolo de dinheiro quase saindo da parte superior do envelope. O homem sorriu novamente para Emma. — Encantado em conhecê-la, srta. Swan. Talvez nos vejamos outro dia. Acenou com a cabeça e caminhou para fora. — Quem era aquele sujeito? — perguntou Emma, uma vez que ele tinha ido embora. Era o sr. Gold respondeu a garota em tom conspiratório. Ele é o dono deste lugar. — Da pensão? — Não — completou a senhora. - De toda a cidade. Emma ergueu as sobrancelhas. Ah... — Aqui esta a sua chave ea senhora entregou a Emma uma grande chave de metal, quase cômica por suas intenções artísticas, cheia de floreados. Nada naquela cidade parecia normal, era o que Emma estava percebendo. - Quanto tempo você vai ficar? — Apenas uma semana respondeu Emma, olhando para a chave. — Apenas uma semana. Esse era o tempo de que ela precisava para ter certeza de que Henry ficaria bem. Deveria bastar. O que mais teria algum sentido? Ela precisava conhecer o seu filho. Teria de ficar perto dele agora que o encontrara. O que mais uma pessoa poderia fazer? — Uma semana! gritou a senhora. Mas que maravilha! Bem-vinda a Storybrooke.
Emma pegou a chave. Lá fora, o segundo ponteiro no relógio da torre começou a se move.



Continuar...........